25 mar 2011

Año 3 - hoja N°2 - Bienvenidos - Navegantes 2011


Fotografía: Aída Ovando

Beth Brait Alvin - Brasil

SENHOR DAS BORBOLETAS


no vapor do azulejo
do wc e a solidão
dos anos 50

moscas se embriagam
de névoa
visão ou cegueira
?
e outras visões contaminam
o gás aspirado
por um triz

bem mais
do nada que se quis

apenas boiar na demência
overdose
ou
milagre
?
sempre à beira de um qualquer
e
com ele
a insensatez
ah
o inseto flaneur lambe todo o labirinto

as águas extenuam
os olhos doem
ah
não dá pra ser feliz

apenas boiar em milagres

e que se dane a vida a morte a dor o amor a sorte

já que a banheira tão antiga nem registro tem
e nenhuma lembrança da infância
de um banho qualquer que valesse
mas este
este aqui
no 17o andar
voa nos vapores
das moscas - borboletas

onde mergulhei num instante
e inalei palavra e ácido
até roer
trucidar
o todo e o tudo
e sugar muito fundo
o pó dos telhados
os olhos caem
o buço enrosca
feliz de espuma

e beija
as asas de insetos

e bebe o dejeto da vida
na superfície


oh
senhor dos irados

ninguém
por certo
pensou

que

pudesse ser assim

De: VISIONES DEL MIEDO (2010)



SEÑOR DE LAS BURBUJAS



en el vapor del azulejo
del wc y la soledad
de los años 50

moscas se embriagan
de niebla
visión o ceguera
?
y otras visiones contaminan
el gas aspirado
por un tris

tanto más
del nada que se quiso

apenas flotar en la demencia
sobredosis
o
milagro
?
siempre al lado de un cualquiera
y con él
la insensatez
ah
el insecto flaneur lame todo el laberinto

las aguas extenúan
los ojos duelen
ah
no da para ser feliz

apenas flotar en milagros

y que se dañen la vida la muerte el dolor el amor la suerte
ya que la bañera tan antigua ni registro tiene
y ningún recuerdo de la infancia
de un baño cualquiera que valiese
pero éste
éste aquí
en el piso 17
vuela en los vapores
de las moscas – burbuja

donde me sumergí en un instante
e inhalé palabra y ácido
hasta roer
despedazar
lo todo y el todo
y sorber muy hondo
el polvo de los techos
los ojos caen
el bozo se encrespa
feliz de espuma

y besa
las alas de insectos
y bebe el desecho de la vida
en la superficie


oh
señor de los airados

nadie
por cierto
pensó

que

pudiese ser así


Traducción: Antonio Alfeca

Beth Brait Alvin - Brasil

PAUSA

essa pausa é o sono e a falta de sono
epicentro no peito
olhos
dedos
entropia dos trópicos nas avenidas
e eu
lenda do não ter fim
esgano o best-seller
Gide mal traduzido
o gozo de Borges
o galo de São Pedro
as garras da Marguerite
o ópio de Camus
o estupor de Isidore

no fim
banho homens velhos
sob as luzes dos gafanhotos
e
esfrego o coração
nas lágrimas das dançarinas
todas de joelhos
nos outdoors da cidade


PAUSA


esa pausa es el sonido y la falta de sonido
epicentro en el pecho
ojos
dedos
entropía de los trópicos en las avenidas
y yo
leyenda del nunca acabarse
estrangulo el best-seller
Gide mal traducido
el gozo de Borges
el gallo de San Pedro
las garras de Marguerite
el opio de Camus
el estupor de Isidore
al final
baño a hombres viejos
bajo las luces de las langostas
y
restriego el corazón
en las lágrimas de las bailarinas
todas de rodillas
en los outdoors de la ciudad


Traducción: Antonio Alfeca

Beth Brait Alvin - Brasil

O MEIO DA NOITE
para celso de alencar

não é o nome da mãe
o urro sub humano no
meio da noite?

(o verme saltita
no meio-fio

o ronco a diesel sufoca
a chance)

lá está ela do outro
lado do talvez

era o nome da mãe?

(sirenes da noite lembram
choros de meninos)


do livro Mulheres de São José, 1993




EN MEDIO DE LA NOCHE
para celso de alencar


no es el nombre de la madre

el alarido infrahumano en

medio de la noche?


(el verme saltando

en el bordillo


el rugido del diésel ahoga

la ocasión)


allí está ella del otro

lado del quizá


era el nombre de la madre?


(sirenas de la noche

recuerdan

llantos de niños)


Traducción: Antonio Alfeca

Alexandre Bonafim - Brasil

CELEBRAÇÃO DAS MARÉS


- I -

Um risco de veleiros em fuga
sempre foi o teu nome.
Arquipélagos de incandescentes pássaros
os teus olhos. Os frutos do sal,
a íris do sol na filigrana das águas,
os cardumes do outono, clamam em teus pulsos
a presença de um fogo vivo,
cicatriz de um oceano em fúria.
 
 
Sempre foi o teu nome as marés.
Em cada palavra do teu ser,
navegam barcos de pólen,
peixes de constelações ardentes.
Em cada silêncio dos teus gestos,
nasce o azul dos cavalos marinhos,
movimento dos remos singrando o mistério.
 
 
O teu nome sempre foi os promontórios,
as ilhas desvairadas pelo verão.
Sobre tua nudez repousam
a brancura das velas infladas,
a plena luminosidade do meio-dia.
 
Em teu destino os corais tramaram
a encantação das estrelas marinhas,
a memória dos búzios.
Essa é a convocação das marés:
fazer do teu rosto o destino das ondas,
a areia desfeita nas orlas.
 
No teu nome o sono das crianças
apascentou a cólera dos naufrágios.



CELEBRACIÓN DE LAS MAREAS

- I -

Un riesgo de veleros en fuga
siempre fue tu nombre.
Archipiélagos de incandescentes pájaros
tus ojos. Los frutos de la sal,
el iris del sol en la filigrana de las aguas,
los cardúmenes del otoño, claman en tus pulsos
la presencia de un fuego vivo,
cicatriz de un océano en furia.
 
 
Siempre fue tu nombre las mareas.
En cada palabra de tu ser,
navegan barcos de polen,
peces de constelaciones ardientes.
En cada silencio de tus gestos,
nace el azul de los caballos marinos,
movimiento de los remos singlando el misterio.
 
 
Tu nombre siempre fue los promontorios,
las islas desorientadas por el verano.
Sobre tu desnudez reposan
la blancura de las velas infladas,
la plena luminosidad del mediodía.
 
En tu destino los corales tramaron
el conjuro de las estrellas marinas,
la memoria de las caracolas.
Esa es la convocatoria de las mareas:
hacer de tu rostro el destino de las olas,
la arena deshecha en las orlas.
 
En tu nombre el sueño de los niños
calmó la cólera de los naufragios.


Traducción: Alberto Acosta

Alexandre Bonafim - Brasil

Celebração das Marés

- II -
 
"Longe o marinheiro tem
Uma serena praia de mãos puras"
Sophia de Mello Breyner Andresen
 
Do cerne dos oceanos, do fecundo ventre da noite,
nasce seu peito tatuado pela força das âncoras,
pela fúria dos cavalos marinhos.
Sua pátria sempre foi os relâmpagos,
o sal, o trêmulo pergaminho dos vendavais.
 
Há milênios ele se perdeu de toda terra.
Há séculos seu andar tem a leveza das quilhas sobre as ondas,
das velas despidas pelo sal.
Por isso seu destino sempre se quebrou contra as marés,
contra a amplidão das águas sem nome.
Por isso seu barco sempre se partiu contra o infinito,
contra o nascimento do mundo.
 
O marinheiro mora em antigas tempestades.
De tanto queimar o rosto nas ondas,
seus olhos vestiram o êxtase dos cardumes cegos,
dos corais inundados de luz.
 
De longe, de muito longe ele vem...
 
Uma cicatriz corta-lhe o rosto:
relâmpago, ninho de enguias.
Uma cicatriz corta-lha a vida,
o coração, o seu destino inteiro:
faca de fina luz a singrar
os sonhos, a inocência.
 
Desertos sedentos, sequidão de ossos
ardem seu cerne, corroem seus desejos.
Por isso a errância é sua campa, seu jazigo.
Por isso lugar nenhum é seu túmulo.
 
A vida espoca em suas vísceras,
com a lucidez do ácidos agudos,
A vida é-lhe a urgência do salto,
do grito das águas, do urro das ondas.
 
De longe, de muito longe ele vem...
 
Ele tem o braço quebrado pelas chuvas,
a boca cinzelada pelas maresias.
Todo o oceano adormece em suas pálpebras.
Todas as procelas pousam em seus pulsos.
Ele tem o dom das luas cheias,
o estigma das constelações desnudas.
 
Do fecundo ventre dos oceanos, do cerne da noite,
nasce seu sêmen fustigado pela violência dos astros,
pela febre das estrelas marinhas.
Nos seus flancos veleiros ardem os pontos cardeais,
a embriaguez das gaivotas consumidas pelo azul.
 
De longe, de muito longe ele vem...
 
Dentro de seus olhos, no íntimo secreto do seu medo,
nadam medusas, tubarões cegos.
Dentro de seu assombro bóiam corsários afogados,
sereias decepadas, cordilheiras iluminadas.
Por isso sua pele sempre se desnuda nos nascimentos,
nas celebrações súbitas.
Por isso seu corpo sempre se nomeia no orgasmo das rebentações,
na ardências das águas vivas.
 
O marinheiro mora na ruína dos ventos.
De tanto rasgar as ilusões no sal,
todo o seu existir vestiu o esplendor do Atlântico,
a fúria mórbida do Pacífico.
 
De longe, de muito longe ele vem...
 
Seu barco sempre foi o silêncio dos búzios,
as algas, a solidão das ilhas esquecidas.
As fatalidades navegam em seus ombros.
Os desastres apunhalam seu nome.
Toda a sua luta sempre foi fitar a morte de frente,
como quem acalanta um criança jamais nascida.
 
De longe, de muito longe ele vem...


CELEBRACIÓN DE LAS MAREAS

- II -
 
"Lejos el marinero tiene
Una serena playa de manos puras"
Sophia de Mello Breyner Andresen
 
Del tronco de los océanos, del fecundo vientre de la noche,
nace su pecho tatuado por la fuerza de las anclas,
por la furia de los caballos marinos.
Su patria siempre fue los relámpagos,
la sal, el trémulo pergamino de los vendavales.
 
Hace milenios él se perdió de toda tierra.
Hace siglos su andar tiene la levedad de las quillas sobre las olas,
de las velas desvestidas por la sal.
Por eso su destino siempre se quebró contra las mareas,
contra la amplitud de las aguas sin nombre.
Por eso su barco siempre se partió contra el infinito,
contra el nacimiento del mundo.
 
El marinero mora en antiguas tempestades.
De tanto quemarse el rostro en las olas,
sus ojos vistieron el éxtasis de cardúmenes ciegos,
de corales inundados de luz.
 
De lejos, de muy lejos él viene...
 
Una cicatriz le corta el rostro:
relámpago, nido de anguilas.
Una cicatriz le corta la vida,
el corazón, su destino entero:
daga de fina luz que singla
los sueños, la inocencia.
 
Desiertos sedientos, sequedad de huesos
arden su tronco, corroen sus deseos.
Por eso el errar es su campo, su refugio.
Por eso ningún lugar es su túmulo.
 
La vida estalla en sus vísceras,
con la lucidez de los ácidos agudos,
La vida le es la urgencia del salto,
del grito de las aguas, del rugir de las olas.
 
De lejos, de muy lejos él viene...
 
Él tiene el brazo quebrado por las lluvias,
la boca cincelada por el olor del mar.
Todo el océano adormece en sus párpados.
Todas las tempestades se posan en sus pulsos.
Él tiene el don de las lunas llenas,
el estigma de las constelaciones desnudas.
 
Del fecundo vientre de los océanos, del tronco de la noche,
nace su semen fustigado por la violencia de los astros,
por la fiebre de las estrellas marinas.
En sus flancos veleros arden los puntos cardinales,
la embriaguez de las gaviotas consumidas por el azul.
 
De lejos, de muy lejos él viene...
 
Dentro de sus ojos, en el íntimo secreto de su miedo,
nadan medusas, tiburones ciegos.
Dentro de su asombro flotan corsarios ahogados,
sirenas amputadas, cordilleras iluminadas.
Por eso su piel siempre se desnuda en los nacimientos,
en las celebraciones súbitas.
Por eso su cuerpo siempre se nombra en el orgasmo de los retoños,
en el ardor de las aguas vivas.
 
El marinero mora en la ruina de los vientos.
De tanto herir las ilusiones en la sal,
todo su existir vistió el esplendor del Atlántico,
la furia mórbida del Pacífico.
 
De lejos, de muy lejos él viene...
 
Su barco siempre fue el silencio de las caracolas,
las algas, la soledad de las islas olvidadas.
Las fatalidades navegan en sus hombros.
Los desastres apuñalan su nombre.
Toda su lucha siempre fue clavarle los ojos a la muerte de frente,
como quien canta una canción de cuna a un niño jamás nacido.
 
De lejos, de muy lejos él viene...


Traducción: Alberto Acosta

Alexandre Bonafim - Brasil

Celebração das Marés


- III -
 
Do poema nada nos resta
a não ser essa viagem
rumo aos mares,
esse gosto de naufrágio
ao findar das paixões,
esse astrolábio partido.
 
A leitura do poema,
peixe cego, barco amputado,
nada nos ensina,
em nada modifica
a força das marés.
 
Rastro de espuma
na pele dos acasos,
o poema finca suas âncoras
no sal, na eternidade,
onde nossas ausências
ardem o grito dos corais.
 
O poema é nudez precária,
procela sem ventos, sem nuvens.
Quando nele adormecemos,
acordamos com os ossos fraturados,
vergastados pelas maresias.
 
O poema é tão inútil
quanto o mar ao fim da tarde.
 
Por isso seu esplendor é límpido
como a beleza da morte.


CELEBRACIÓN DE LAS MAREAS

- III -
 
Del poema nada nos resta
a no ser ese viaje
rumbo a los mares,
ese gusto de naufragio
al acabar de las pasiones,
ese astrolabio partido.
 
La lectura del poema,
pez ciego, barco amputado,
nada nos enseña,
en nada modifica
la fuerza de las mareas.
 
Rastro de espuma
en la piel de los acasos,
el poema hinca sus anclas
en la sal, en la eternidad,
donde nuestras ausencias
arden el grito de los corales.
 
El poema es desnudez precaria,
crea tormentas sin vientos, sin nubes.
Cuando en él adormecemos,
despertamos con los ojos fracturados,
arremetidos por las mareas.
 
El poema es tan inútil
como el mar al final de la tarde.
 
Por eso su esplendor es límpido
como la belleza de la muerte.


Traducción: Alberto Acosta

Nilto Maciel - Brasil

DE DESAPARIÇÕES E DE RUÍNAS


Quando os dragões sumiram
por trás dos montes,
eu me quedei,
olhos fitos nos horizontes empardecidos.
Anoiteceu e ainda pude ver
suas sombras se diluindo,
e, com elas, toda a coorte do castelo:
princesas, fadas, bruxas e duendes.
Incontinenti, ruíram as muralhas
e um pó sem cor se fez no ar,
feito nuvens de tempestade.
Busquei sonhar.
No entanto, o leito não me comportou
e eu me senti tão só
que a noite nunca teve fim.
Tudo desapareceu,
tudo ruiu:
ruas e casas que habitei
e com elas meus passeios;
cadernos de caligrafia
e com eles meus rabiscos;
verbos no pretérito
e com eles o presente e o futuro;
bares onde me inebriei
e com eles meus devaneios;
amigos e seus ais
e com eles a sede de dizer;
amadas e seus olhos
e com elas a fantasia;
meus irmãos e suas vozes
e com eles os motivos de lutar;
meu pai e minha mãe
e com eles o sentido de viver.

Tudo desapareceu,
tudo ruiu,
até que o próprio Deus sumiu.
E então tudo o que fora sólido
se espedaçou;
tudo o que fora festa
se estiolou;
tudo o que fora enigma
se elucidou;
tudo o que fora nobre
se banalizou;
tudo o que fora belo
se embaçou;
tudo o que fora doce
se amargurou;
tudo o que fora sacro
se aviltou;
tudo o que fora eterno
se findou;
tudo o que fora vida
em morte se tornou;
tudo o que fora meu
roubou-me o tempo
e eu afundei num poço
em que não creio.
(9.8.97)

(In Poesía de Brasil, volumen 1, organizado por Aricy Curvello, Proyeto Cultural Sur, 2000.)




DE DESAPARICIONES Y DE RUINAS


Cuando los dragones desaparecieron
detrás de los montes
yo me quedé,
ojos fijos en los horizontes amarronados.
Anocheció y aún pude ver
sus sombras diluyéndose,
y, con ellas, toda la corte del castillo:
princesas, hadas, brujas y duendes.
Incontinenti, cayeron las murallas
y un polvo sin color se hizo en el aire,
como nubles de tempestad.
Busqué soñar.
Sin embargo, el lecho no me aceptó
y me sentí tan solo
que la noche nunca tuvo fin.
Todo desapareció,
todo se deshizo:
calles y casas que habité
y con ellas mis paseos;
cuadernos de caligrafía
y con ellos mis esbozos;
verbos en pretérito
y con ellos el presente y el futuro;
bares donde me embriagué
y con ellos mis divagaciones;
amigos y sus ays
y con ellos la sed de decir;
amadas y sus ojos
y con ellas la fantasía;
mis hermanos y sus voces
y con ellos los motivos de luchar;
mi padre y mi madre
y con ellos el sentido de vivir.
Todo desapareció,
todo se deshizo
hasta que el mismo Dios se fue.
Y entonces todo lo que fuera sólido
se despedazó;
todo lo que fuera fiesta
desfalleció;
todo lo que fuera enigma
se elucidó;
todo lo que fuera noble
se banalizó;
todo lo que fuera bello
se empañó;
todo lo que fuera dulce
se amargó;
todo lo que fuera sacro
se envileció;
todo lo que fuera eterno
se terminó;
todo lo que fuera vida
en muerte se convirtió;
todo lo que fuera mío
el tiempo me lo robó
y me hundí en un pozo
en que no creo.


Traducción: Gabriel Solis

Nilto Maciel - Brasil

FRANCISCA
Para minha mãe.

O corpo dela  finas fibras de algodão.
Su’alma doce  cana e mel nos descampados.
Francisca, franciscana, passarinho, abelha.
Materna e bela  mãe dos meus penares: penas.

Seu frágil corpo e a terra tão pesada sobre
o esp’rito dela grande feito um vasto mundo,
voando aves, alves, alvas, alvacentas plumas
no espaço, o céu que cria Deus e a salvação.

Agora vago feito um vagabundo e espreito
estrelas, luzes, vãs quimeras, perdições
de quem viveu ou vive a acreditar no Nada.

E sonho ser aqui fiapo ou gota que
se busca, chama-se, perdido e apagado,
e a chama: mãe, me acende e me ilumina sempre.


(In Poesía de Brasil, volumen 1, organizado por Aricy Curvello, Proyeto Cultural Sur, 2000.)



FRANCISCA
Para minha mãe.



Su cuerpo – finas fibras de algodón.
Su alma dulce – caña y miel en los descampados.
Francisca, franciscana, pajarito, abeja.
Maternal y bella – madre de mis penares: plumas.

Su frágil cuerpo y la tierra tan pesada sobre
su espíritu grande como un vasto mundo,
volando aves, albas, albeoladas plumas
en el espacio, el cielo que crea Dios y la salvación.

Ahora vago hecho un vagabundo y acecho
estrella, luces, venas quimeras, perdiciones
de quien vivió o vive no creyendo en la Nada.

Y sueño ser aquí hilacha o gota que
se busca, se llama, perdida y desvanecida,
y la llama: madre, enciéndeme y ilumíname siempre.


Traducción: Gabriel Solis

Nilto Maciel - Brasil

CALVÁRIO

Eu também já fui menino, Jesus.
E tive irmãos e tive pais e casa.
Andavam pelo chão formigas em
labores, procissões intermináveis.

Voavam gafanhotos e saltavam,
como se o céu limites não tivesse.
As gotas d’água fria em mim caíam
quando eu tocava um galho enverdecido.

Nas madrugadas ventos me levavam
e eu me perdia em nuvens de algodão.
Nos arrebóis do entardecer o sol
agonizava no calvário e
me dessangrava, como se eu finasse.

Eu também já fui menino, Jesus.
Lembro de meus irmãos adormecidos
no vendaval dos sonhos e perdidos
comigo e com você, que já crescera.
(13.09.96)

(In Poesía de Brasil, volumen 1, organizado por Aricy Curvello, Proyeto Cultural Sur, 2000.)



CALVARIO

Yo también ya fui niño, Jesús.
Y tuve hermanos y tuve padres y casa.
Andaban por el suelo hormigas en
labores, procesiones interminables.

Volaban langostas y saltaban,
como si el cielo límites no tuviese.
Las gotas de agua fría en mí caían
cuando yo tocaba un gajo enverdecido.

En las madrugadas vientos me llevaban
y me perdía en nubles de algodón.
En los arreboles del atardecer el sol
agonizaba en el calvario y
me desangraba, como si yo muriese.

Yo también ya fui niño, Jesús.
Recuerdo mis hermanos adormecidos
en el vendaval de los sueños y perdidos
conmigo y contigo, que ya crecieras.


Traducción: Gabriel Solis

1 mar 2011

Año III - Hoja Nº1 de los Navegantes 2011 - Bienvenidos

Dora Delia Battiston - Argentina

PARA NOMBRARLOS

Para Aldo Reda
"Todo debe estar eternamente ante Dios."
Goethe



Deben estar entonces aquellos tamariscos,
guardianes de la vida, oración verde,
límite del secreto y de la gracia.
Deben estar, indudables, silenciosos,
multiplicándose
bajo sus propias dinastías de sombra,
su cielo en laberinto
su señal de distancia.
Deben estar sus ramas encendidas
y su forma solar en las mañanas,
pero también sus noches en la noche
reiterada del pueblo,
confusa red de nombres y de pasos,
lentas voces entrando a su misterio.
Todo estará: la muralla persistente
y esa fidelidad al infinito
mapa de sus raíces, a la dulce
simulación de eternidad que implican,
y un susurro de polen y de insecto.
Y más acá, en el tiempo, su elegía,
este modo imperfecto de nombrarlos,
esta palabra gris que se aniquila
en su verde universo sin palabra.

(De: Entre el viento y el humo de la vida - 1982)


PARA NOMEAR-OS

Para Aldo Reda
"Tudo deve ficar eternamente ante Deus."
Goethe



Devem ficar então aqueles tamárices,
guardas da vida, oração verde,
limite do segredo e da graça.
Devem ficar, indubitavels, silenciosos,
multiplicándo-se
debaixo das suas próprias dinastias de sombra,
seu céu em labirinto
seu sinal de distância.
Devem ficar os seus galhos acendidos
e o seu jeito solar nas manhás,
mais também suas noites na noite
reiterada da vila,
confusa rede de nomes e de passos,
lentas vozes entrando no seu mistério.
Tudo ficará: a muralha persistente
e essa fidelidade ao infinito
mapa das suas raízes, a doce
simulação de eternidade que implicam,
e um sussurro de pólen e de inseto.
E mais cá, no tempo, a sua elegia,
esse jeito imperfeto de nomear-os,
essa palavra cinza que se aniquila
no seu verde universo sem palavra.


Traducción: Alberto Acosta

Dora Delia Battiston - Argentina

LOS DÍAS DESDE ENTONCES (2008-2010)

Arrastro a la mañana
fantasmas débiles
reiterados
figuras de la artrosis
sensaciones de larva
que arroja el sueño
a las orillas
del día
donde hablamos
decimos cualquier cosa
porque de todos modos
habla el lenguaje
con sus recuerdos
de una mejor poesía
habla el lenguaje
y no yo
que estoy al margen
en la relativa sombra
de la duda
del despertar
del día
y el muro arroja un aire circular
donde una vez bailamos,
una moldura extraña
donde una vez dijimos
para siempre
pero es sólo sueño
ya que el día
avanzará con nervios retorcidos
y con soles quemantes
alojados
en un lugar de la cabeza
y con horarios
rotos
en vidrios de un mosaico
de migral y de miedo
la pared donde dije
querido amado
y el sonido
de la voz
tan entera y quebrada
que atormenta
y esa fotografía del muchacho en un médano
con la sonrisa de veinte años
indecisa
esperando la vida
algo de la vida más bien
esa foto de grises
solares
de un otoño
allá por los sesenta
que me mostró tu madre
ninguna foto me hizo llorar como ésa
por la inocencia de un tiempo
en que no nos habíamos visto aún
(ya que el tiempo entre nosotros
era inocente todavía
no nosotros
sino ese tiempo
blanco y sin lágrimas)
qué color
me pregunto
qué color era esa tarde
el médano
y me arranco de la noche
con tu mejor fantasma
el que sonríe incierto
en el médano otra vez
entre olivillos
con esa desconfianza en la dicha
que marcó todos tus momentos
pensantes
en los otros viajabas subido a cierta música
en la tarde morita o la creciente
no sé
nunca supe
entrar a esos momentos
porque siempre
hubo puertas cerradas
y cortinas corridas
y boca clausurada
y ahora la noche me tira
sobre un baldío
y lo primero que entiendo
es que no tengo
ninguna clave
nada
para ir a descifrarte
en un disco
o una carta
que puedo comer de nuevo la fruta del pasado
la carne extenuada del pasado
el tiempo gastado que me dieron
los días que ya usamos y no me sirven
para arrastrar por la hoja dorada
por la tarde hundida
en cielos extraños
que no conozco
no sé
es lo que me dicen de nuevo
algún relámpago, una fronda
para entender que ahí, entre ladridos
y pieles de zorro
acaso estás
o estabas

o en esa agua marrón que queda entre los caldenes
después de la lluvia que no vimos
pero que estuvo ocurriendo como tus huesos en esta parte
del mundo que no entiendo
y el agua dice
aquí estuve
soy de nuevo
como cuero y humo
y si pudieras
oler mi cigarro en la nochecita
cuando te decía que no hay otro cielo
entenderías
pero no entiendo
y hay bosque aquí
espinas que ya estaban
irregulares sombras
donde duermen los pájaros del día



OS DÍAS DESDE ENTÂO (2008-2010)

Arrastro na manhá
fantasmas fracos
reiterados
figuras da artrose
sensações de larva
que arremessa o sonho
nas márgenes
do dia
onde falamos
dizemos cualquer coisa
porque de tudo jeito
fala a linguagem
con as suas lembranças
de uma melhor poesia
fala a linguagem
e não eu
que estou na margem
na relativa sombra
da dúvida
do acordar
do dia
e o muro projeta um ar circular
onde uma vez dançamos,
uma moldura estranha
onde uma vez dizemos
para sempre
mais é só sonho
já que o dia
avançará con nervos retorcidos
e con sões queimantes
alojados
num lugar da cabeça
e con horários
rotos
em vidros de um mosaico
de migral e de medo
a parede onde eu diz
querido amado
e o som
da voz
tão inteira e quebrada
que atormenta
e essa fotografia do garoto num médão
com o sorriso dos vinte anos
indecisa
esperando a vida
algo da vida mais bem
essa foto de cinzas
solares
dum outono
lá pelos sessenta
que mostro-me a tua mãe
nenhuma foto me fiz chorar como essa
pela inocência dum tempo
en que não tinhamos visto ainda
(já que o tempo entre nos
era inocênte ainda
não nós
senão esse tempo
branco e sem lágrimas)
que cor
pergunto-me
que cor era essa tarde
o médão
e arranco-me da noite
com o teu melhor fantasma
o que sorri incerto
no médão outra vez
entre oliveirinhas
con essa desconfiança na felicidade
que assinó todos os teus momentos
pensantes
nos outros viajavas subido em certa música
na tarde morinha o a cheia
não sei
nunca soube
entrar nessos momentos
porque sempre
houveram portas fechadas
e cortinas corridas
e boca enclausurada
e agora a noite me joga
sobre um baldio
e o primeiro que entendo
é que não tenho
nehuma senha
nada
para ir te decifrar
num disco
o uma carta
que posso comer de novo a fruta do passado
a carne extenuada do passado
o tempo corroido que me deram
os días que já usamos e não me serven
para arrastrar pela folha dourada
pela tarde afundada
nos céus estranhos
que não conheço
não sei
é o que me dizem de novo
algum relâmpago, um espesso
para entender que aí, entre latidos
e peles de raposa
acaso vocé esta
ou estava

ou nessa agua marrom que fica entre os caldenes
depois da chuva que não vimos
mais que estava acontecendo como os teus ossos nesta parte
do mundo que não entendo
e a água dize
aqui esteve
sou de novo
como couro e fumaça
e si vocé podera
cheirar o meu cigarro na noitezinha
cuando te dizia que não há outro céu
entenderia
mais não entendo
e há uma mata aqui
espinhos que já estavam
irregulares sombras
onde dormen os passaros do dia


Traducción: Alberto Acosta

Dora Delia Battiston - Argentina

SEPIA


En las últimas gradas de la casa
María, Delia, Leticia,
dedos entrelazados
blancos hombros, collares
se apoyaban en lentos tapizados
y miraban con ojos de desvelo
el campo de oro de las manzanillas.

Así quedaron para siempre en sepia
para siempre muchachas
bellas, graves,
niqueladas de sombra
sin temor, sin futuro, sin herida.



(De: Imágenes - 1987)



SÉPIA


Nas últimas escadarias da casa
María, Delia, Leticia,
dedos entrelaçados
brancos ombros, colares
apoiaban-se em lentos atapetamentos
e miravan con olhos de desvelo
o campo de oro das camomilas.

Assim quedaran para sempre em sépia
para sempre garotas
belas, graves,
niqueladas de sombra
sem temor, sem futuro, sem ferida.


Traducción: Alberto Acosta

José Inácio Vieira de Melo (Brasil)

A CASA DOS MEUS QUARENTA ANOS




Assim é a casa dos meus quarenta anos,
assombrada e sóbria como um bacurau.

Em seus largos cômodos,
habitam uma enorme solidão
e muitas vontades de vida.

É noite e estou em meu quarto
urdindo meus infinitos à eternidade.
Eu – apenas eu – eu.

Lá fora, uma sinfonia de questionamentos:
grilos, sapos, rãs na sua intermitente litania
enlouquecem meus fantasmas.

A minha casa, às três horas da madrugada,
tem os olhos bem abertos – esbugalhados sertões –
e os seus fantasmas, somatórios do eu,
vão se arrumando do jeito que podem.

Um, no quarto ao lado,
implora para que desatem o nó da forca.
Não suporta mais as folhas da algarobeira
chorando o seu destino.

No quarto do outro lado,
outro choraminga suas dores, suas pernas quebradas,
o sangue escorrendo para o nada
(esse espectro dói demais e a sua grande
novidade é saber que vai morrer).

No quarto derradeiro,
os morcegos dormem sossegadamente
e seu mundo não é de cabeça para baixo.
No quarto derradeiro da casa dos meus quarenta anos,
os morcegos adubam o terreno e aguardam a chegada
de mais um dia, de mais um ano.

E assim, no bater das asas do galo pedrês,
o choro do recém-nascido.

E de dia a casa dos meus quarenta anos
é cheia de janelas azuis abertas para o azul.
E uma multidão de ventos vem assobiar dentro dela,
vem renovar os ares, sacudir os quadros nas paredes,
jogar meus retratos pelo chão.
Ventos dadaístas
a remexer nos meus poemas, mudar seus versos,
rearrumar suas estrofes.

E o dia vai crescendo com uma claridade medonha,
e as telhas da minha casa abrem os olhos
e olham para o alto e se benzem e dizem amém
(cada telha da casa dos meus quarenta anos
é um olho aceso espiando dentro de suas cores).

E há momentos em que tudo que é bicho se cala
e a casa mais parece um cemitério.

A casa dos meus quarenta anos é caiada de branco
e tem janelas azuis abertas para o azul.

A casa dos meus quarenta anos – cemitério de ilusões.


(De: ROSEIRAL - 2010)



LA CASA DE MIS CUARENTA AÑOS



Así es la casa de mis cuarenta años,
umbría y sobria como un ave nocturna.

En sus largas habitaciones,
habita una enorme soledad
y muchas ganas de vida.

Es de noche y estoy en mi cuarto
urdiendo mis infinitos a la eternidad.
Yo – apenas yo – yo.

Allá afuera, una sinfonía de cuestionamientos:
grillos, sapos, ranas en su intermitente letanía
enloquecen mis fantasmas.

Mi casa, a las tres de la madrugada,
tiene los ojos bien abiertos – páramos abiertos de par en par –
y sus fantasmas, sumatorios de mi,
se van ordenando del modo que pueden.

Uno, en el cuarto del lado,
implora para que desaten el nudo de la fuerza.
No soporta más las hojas del algarrobo
llorando se destino.

En el cuarto del otro lado,
otro gimotea contando sus dolores, sus piernas quebradas,
la sangre escurriendo hacia la nada
(ese espectro duele demasiado y su gran
novedad es saber que va a morir).

En el último cuarto,
los murciélagos duermen sosegadamente
y su mundo no es cabeza abajo.
En el último cuarto de la casa de mis cuarenta años,
los murciélagos abonan el terreno y aguardan la llegada
de otro día, de otro año.

Es así, en el batir de las alas del gallo pinto,
el llanto de un recién nacido.

Y de día la casa de mis cuarenta años
está llena de ventanas azules abiertas hacia el azul.
Y una multitud de vientos vienen a silbar dentro de ella,
vienen a renovar los aires, sacudir los cuadros en las paredes,
tirar mis retratos por el suelo.
Vientos dadaístas
a revolver mis poemas, cambiar sus versos,
reordenar sus estrofas.

Y el día va creciendo con una claridad horrenda,
y las tejas de mi casa abren los ojos
y miran a lo alto y se bendicen y dicen amén
(cada teja de la casa de mis cuarenta años
es un ojo encendido espiando dentro de sus colores).

Y hay momentos en que todo animal se calla
y la casa más parece un cementerio.

La casa de mis cuarenta años está callada de blanco
y tiene ventanas azules abiertas al azul.

La casa de mis cuarenta años – cementerio de ilusiones.


Traducción: Alberto Acosta

José Inácio Vieira de Melo (Brasil)

CÂNTICO DOS CÂNTICOS


Que as tuas nádegas aventureiras estejam abertas
para o poema em linha reta que te ofereço,
que a minha escrita torta e avessa
chegue linheira na olaria de tua carne
e ardas e ardo neste morno forno
das tuas nádegas tão abundantes.

Das tuas nádegas tão montanhosas
o horizonte é mais macio e a minha linguagem
saboreia o mel do fel que trazes
e de teus olhos gemem os arco-íris
e teu corpo todo é um esplendor, uma assombração
e quanta delícia anunciam teus arrepios
e tuas nádegas aventureiras tão venturosas
são uma tempestade de emoções.

Que idioma mágico que tu inventas
quando me aventuro por tuas nádegas
e me perco profundamente e profundamente
me encontro na plenitude cega que tudo enxerga
e profundamente me encanto cantando uníssono
neste nosso idioma o novo cântico dos cânticos.

(De: ROSEIRAL - 2010)


CANTAR DE LOS CANTARES



Que tus nalgas aventureras estén abiertas
para el poema en línea recta que te ofrezco,
que mi escritura torcida y enrevesada
llegue derecho a la alfarería de tu carne
y ardas y arda en este templado horno
de tus nalgas tan abundantes.

De tus nalgas tan montañosas
el horizonte es mas suave y mi lenguaje
saborea la miel de la hiel que traes
y de tus ojos gimen los arco iris
y tu cuerpo todo es un esplendor, un asombro
y cuánta delicia anuncian tus escalofríos
y tus nalgas aventureras tan venturosas
son una tempestad de emociones.

Qué idioma mágico que inventas
cuando me aventuro por tus nalgas
y me pierdo profundamente y profundamente
me encuentro en la plenitud ciega que todo presiente
y profundamente me encanto cantando al unísono
en este idioma nuestro, el nuevo cantar de los cantares.


Traducción: Alberto Acosta

José Inácio Vieira de Melo (Brasil)

INVENÇÂO DA POESIA

Para Gerardo Mello Mourão




Pele vestida, distribuída e refeita,
parto para o princípio do labirinto.

Parto e principio o labirinto.
Na sua duração se abre o círculo
do espanto.
(Onde o centro? Que duração?).

Musa, teu vestido tem os novelos
da formosura!

O partir desenrola a ausência
e a pausa para o instante se cumpre.
De meu bergantim de ouro eu te informo
um sorriso.

Musa, é sempre a plena estrela
que tem a cauda dos rouxinóis
e que traz a curva da tua sombra.
Em teu ponto começa a extensão do mar,
e teu ponto guarda o profundo início.

E parto,
que a peripécia não é chegar,
que o coração só tem um fim:
ao som do coro das sereias
cantar o ciclo da origem.

(De: ROSEIRAL - 2010)


INVENCIÓN DE LA POESÍA

Para Gerardo Mello Mourão




Piel vestida, distribuída y rehecha,
parto hacia el principio del laberinto.

Parto e inicio el laberinto.
En su duración se abre el círculo
del espanto.
(¿Adónde el centro? ¿Qué duración?).

¡Musa, tu vestido tiene los ovillos
de la hermosura!

El partir desenrolla la ausencia
y la pausa para el instante se cumple.
Desde mi bergantín de oro te informo
una sonrisa.

Musa, siempre es la plena estrella
que tiene la cola de los ruiseñores
y que trae la curva de tu sombra.
En tu punto comienza la extensión del mar,
y tu punto guarda el profundo inicio.

Y parto,
que la peripecia no es llegar,
que el corazón sólo tiene un fin:
al son del coro de las sirenas
cantar el ciclo del origen.


Traducción: Alberto Acosta

Ingnacio Vázquez - Argentina

EL AYRE SUTIL


Siluetas pensativas ante el mar
El efímero mármol de la espuma
se derrumba y diluye por la arena
y una vez y otra vez, sin detenerse,
vuelve a la carga como un toro eterno.
A lo mejor, aquel que acostumbrado
a adivinar, entre imágenes, ideas
ya en forma previsible, relacione
las aguas con el tiempo o con la vida
o con la clásica muerte, su contrario,
o con la identidad o con Narciso;
y son temas, que de uno u otro modo
te hacen poner distancia con tu tiempo
negándote a creer que estén tan juntas,
tan pegaditas una al lado de otra,
frases de Heráclito y Crema Nivea
o nuestras vidas, que son los ríos, y Hawaian Tropic

(De: El ayre sutil - 2010)



O AR SUTIL


Silhuetas pensativas frente ao mar
O mármore efêmero da espuma
se derrama e dilui pela areia
e uma vez e outra vez, sem deter-se
vem à tona como um touro eterno.
Pelo menos, aquele que esteja acostumado
a adivinhar, entre imagens, idéias
já em forma previsível relacione
as águas com o tempo ou com a vida
ou com a clássica morte, seu contrário,
ou com a identidade ou com Narciso;
e são temas, que de um ou outro modo
te fazem colocar distância com teu tempo
te negando a crer que estejam tão juntas,
tão coladinhas uma ao lado da outra,
frases de Heráclito e Creme Nívea
ou nossas vidas, que são rios, e Hawaian Tropic

Traducción: Gerana Damulakis

Ingnacio Vázquez - Argentina

VEROSÍMIL


Tu amor, que prometía
ser más intenso que un Cadbury,
se ha disuelto más pronto

(De: El ayre sutil - 2010)


VEROSSÍMIL


Seu amor, que prometia
ser mais intenso que um Cadbury,
derreteu-se mais rápido

Traducción: Gerana Dumalakis

Ingnacio Vázquez - Argentina

LIQUEN

Crezco a tu planta, secreto
Muero en tus ojos, concreto
Vivo en tu piel, por decreto
Llamo a tu puerta, indiscreto
Y sí, con diccionario resuelvo el crucigrama,
navego las corrientes de cualquier anagrama,
puedo pisar profundas planicies por pangrama
y en el trébol persisto: si me ama o me desama
Gran superficie de agua: mar
Extenso desierto de Asia: Gobi
Al lado de (prep.) : cabe
Dícese del que suplica: suplicante
La música estalla y yo me diluyo :
soy tuyo-soy tuyo-soy tuyo-soy tuyo

(De: El ayre sutil - 2010)

LÍQUEN


Cresço em sua planta, secretamente
Morro em seus olhos, concretamente
Vivo em sua pele, determinadamente
Chamo a sua porta, indiscretamente
E se, com dicionário resolvo as palavras cruzadas,
as correntes de qualquer anagrama tenho navegadas
posso pisar por pantograma planícies profundas
se me ama ou me desama: continuo em trevo a tê-las formadas
Grande superfície de água: mar
Extenso deserto da Ásia: Gobi
Ao lado de: cabe
Diz-se do que suplica: suplicante
A música toca e meu ser se derreteu:
sou seu-sou seu-sou seu-sou seu

Traducción: Gerana Damulakis