22 sept 2011

Año 3 - Hoja N° 10 - Bienvenidos Navegantes 2011


Fotografía: Martín Figueroa

Affonso Romano de Sant' Anna - Brasil

Epitáfio para o século XX


1.
Aqui jaz um século
onde houve duas ou três guerras
mundiais e milhares
de outras pequenas
e igualmente bestiais.
2.
Aqui jaz um século
onde se acreditou
que estar à esquerda
ou à direita
eram questões centrais.
3.
Aqui jaz um século
que quase se esvaiu
na nuvem atômica.
Salvaram-no o acaso
e os pacifistas
com sua homeopática
atitude
-nux vômica.
4.
Aqui jaz o século
que um muro dividiu.
Um século de concreto
armado, canceroso,
drogado, empestado,
que enfim sobreviveu
às bactérias que pariu.
5.
Aqui jaz um século
que se abismou
com as estrelas
nas telas
e que o suicídio
de supernovas
contemplou.
Um século filmado
que o vento levou.
6.
Aqui jaz um século
semiótico e despótico,
que se pensou dialético
e foi patético e aidético.
Um século que decretou
a morte de Deus,
a morte da história,
a morte do homem,
em que se pisou na Lua
e se morreu de fome.
7.
Aqui jaz um século
que opondo classe a classe
quase se desclassificou.
Século cheio de anátemas
e antenas, sibérias e gestapos
e ideológicas safenas;
século tecnicolor
que tudo transplantou
e o branco, do negro,
a custo aproximou.
8.
Aqui jaz um século
que se deitou no divã.
Século narciso & esquizo,
que não pôde computar
seus neologismos.
Século vanguardista,
marxista, guerrilheiro,
terrorista, freudiano,
proustiano, joyciano,
borges-kafkiano.
Século de utopias e hippies
que caberiam num chip.
9.
Aqui jaz um século
que se chamou moderno
e olhando presunçoso
o passado e o futuro
julgou-se eterno;
século que de si
fez tanto alarde
e, no entanto,
-já vai tarde.
10.
Foi duro atravessá-lo.
Muitas vezes morri, outras
quis regressar ao 18
ou 16, pular ao 21,
sair daqui
para o lugar nenhum.
11.
Tende piedade de nós, ó vós
que em outros tempos nos julgais
da confortável galáxia
em que irônico estais.
Tende piedade de nós
-modernos medievais-
tende piedade como Villon
e Brecht por minha voz
de novo imploram. Piedade
dos que viveram neste século
— per seculae seculorum.



Usei o poema EPITÁFIO PARA O SÉCULO XX durante dois ou três semestres no Curso de Pós-graduação em Ciência da Informação, na Universidade de Brasília, na disciplina que então ministrava – Informação, Desenvolvimento e Sociedade. Os alunos liam e fazíamos uma verdadeira heurística do texto. Por que?

O poema de Affonso é o que eu chamo de legítimo “poema-ensaio”, com um conteúdo informacional preciso, no que Roberto Juarroz chamaria de “poiesofia”. Produto de umscholar que disserta magistralmente sobre o tema com eruditismo e domínio da técnica poética, em que as informações se conformam em versos rítmicos de “palavra-puxa-palavra” mas não por simples intenção onomatopaica, mas, sobretudo, significante, coisificante. Sucessor de Drummond, conhecedor do poema processo (que até deve ter combatido em seus excessos formalísticos), os versos compõem um mosaico que analisa e cristaliza uma visão crítica do/no ocaso do século passado. Magistral é a palavra que eu uso tanto para significar a magnificência dos versos quanto seu didatismo.Exige do leitor uma interpertação a partir das palavras-chave que invoca em seu discurso “exemplar”, de contexto, de posição histórica e crítica sobre os elementos citados, que devem necessariamente ser do conhecimento do leitor. Poema síntese de idéias e valores que “dan relevamiento” a um século que se foi, e que foi tarde...
Antonio Miranda

Affonso Romano de Sant' Anna - Brasil

EPITAFIO PARA EL SIGLO XX

1.
Aquí yace un siglo
donde hubo dos o tres guerras
mundiales y millares
de otras pequeñas
e igualmente bestiales.

2.
Aquí yace un siglo
en que se creyó
que ser de izquierda
o de derecha
eran cuestiones centrales.

3.
Aquí yace un siglo
que casi se esfumó
en la nube atómica.
Se salvó por suerte
y por los pacifistas
con su homeopática
actitud
— nux- vómita.

4.
Aquí yace un siglo
que un muro dividió.
Un siglo de concreto
armado, canceroso,
drogado, apestado,
que al fin sobrevivió
a las bacterias que parió.

5.
Aquí yace un siglo
que se abismó
con las estrellas
en las telas
y que el suicidio
de supernovas
contempló.
Un siglo filmado
que el viento se llevó.

6.
Aquí yace un siglo
semiótico y despótico,
que se creyó dialéctico
y fue sidoso y patético.
Un siglo que decretó
la muerte de Dios, la muerte de la historia,
la muerte del hombre, en que se pisó la luna
y se murió de hambre.

7.
Aquí yace un siglo
que oponiendo clase a clase
casi se desclasificó.
Siglo lleno de anatemas,
antenas, siberias y gestapos
e ideológicas safenas;
siglo tecnicolor
que todo trasplantó
y el blanco con el negro
a la fuerza juntó.

8.
Aquí yace un siglo
que se echó en el diván.
Siglo narciso & esquizo
que no pudo computar
sus neologismos.
Siglo vanguardista,
marxista, guerrillero,
terrorista, freudiano,
proustiano, joyceano,
Borges-kafkiano.
Siglo de utopías y hippies
que en un chip entrarían.

9.
Aquí yace un siglo
que se llamó moderno
y mirando soberbio
el pasado y el futuro
se creyó eterno;
siglo que de sí
hizo tal alarde
y, sin embargo,
—se va ya muy tarde.

10.
Fue duro atravesarlo,
Muchas veces morí, otras
quise volver al XVIII,
o al XVI, saltar al XXI, salir de aquí
¿a qué lugar?
— Ninguno.

11.
Piedad de nos, oh vosotros,
que en otros tiempos nos juzgáis
desde la amena galaxia
en que irónicos estáis.
Piedad de nos,
— modernos medievales —
piedad de nos, como Villon
y Brecht, que por mi voz
de nuevo imploran. Piedad
de los que en este siglo vivieron
—per saecula saeculoroum.


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Extraído de EL HOMBRE BOMBA ANTOLOGÍA AFFONSO ROMANO DE SANT´ANNA, publicación de Chile Poesía Editorial. Santiago de Chile: 2005. Em coedición con la Embajada de Brasil.
Ganhei o exemplar desta obra do Centro de Estudos Brasileiros. Comentando com o autor (Affonso), ele brincou referindo-se à situação de portar o livro no vôo Santiago-São Paulo e só então perceber que o título da obra — EL HOMBRE BOMBA – poderia causar algum desassossego aos tripulantes e passageiros... Certo que a poesia é explosiva e pretende mudar o mundo, pelo menos em seus alicerces ideológicos.

Agradecimiento : Prof.: ANTONIO MIRANDA
PORTAL DE POESIA IBEROAMERICANA
www.antoniomiranda.com.br

Fotografía: Martín Figueroa

Hugo Francisco Rivella - Argentina

He de morir del modo en que he vivido


He de morir del modo en que he vivido. No seré como el cóndor que tiene un solo amor y se deja morir cuando la muerte se lleva lo que amó como un soplido.
Vuela, se eleva y se deja caer desde la altura cuando pliega sus alas y en el aire es una ráfaga que ya no pertenece a tanta muerte.
Bendito cóndor, agua sublime.
He de colgar del árbol como Judas pues traicioné la senda y la mirada del hijo que he soltado de la mano. Fui un pirata en los mares del sur, crujía mi calavera cuando mi espada atravesaba el alma de algún náufrago, y fui un ladrón en las garras del tigre.
Tendré mi muerte así, pura y desnuda.
Escribiré un poema en el ocaso, garrapateado en la sombra del hombre que fui,
tal vez,
de ese modo se recuerde mi nombre a la luz de una lámpara.


Hei de morrer do modo em que tenho vivido


Hei de morrer do modo em que tenho vivido. Não serei como o condor que tem um só amor e se deixa morrer enquanto a morte leva o que amou como um sopro.
Voa, se eleva e se deixa cair desde a altura enquanto dobra as suas assas e no ar é uma rajada que já não pertence á tanta morte.
Benzido condor, água sublime.
Hei de pendurar da árvore como Judas pois traí a senda e o olhar do filho que tenho soltado da mão. Foi um pirata nos mares do sul, rangia a minha caveira coando a minha espada atravessava a alma de algum náufrago, e foi um ladrão nas garras do tigre.
Terei a minha morte assim, pura e nua.
Escrivarei um poema no ocaso, garafunhado na sombra do homem que foi,
tal vez,
de esse modo se lembre o meu nome á luz dum abajur.


Traducción: Alberto Acosta

Hugo Francisco Rivella - Argentina

Vivir más de la cuenta


Vivir más de la cuenta, esa es la eternidad.
Salvarse de la horca y de la guillotina, decir como mi madre: “He cumplido 95. Se me fue la mano”
Y ¿Dios, entonces?
Dios muere conmigo porque soy su creador.
Yo pinté en el almendro su larga cabellera y en el ojo del niño incrusté su secreto; puse en la prostituta una rosa lavada y en la mano que sangra dibujé una máscara.
Cierro mi corazón, lo vuelvo impenetrable.
Dejo en tu lengua una llave minúscula.


Viver mais da conta


Viver mais da conta, essa é a eternidade.
Salvar-se da forca e da guilhotina, dizer como a minha mãe: “Tenho cumprido 95. Se me foi a mão”
E ¿Deus, então?
Deus morre comigo porque sou o seu criador.
Eu pintei na amendoeira a sua longa cabeleira e no olho da criança incrustei o seu segredo; pus na meretriz uma rosa lavada e na mão que sangra desenhei uma máscara.
Fecho o meu coração, o torno impenetrável.
Deixo na tua língua uma chave minúscula.


Traducción: Alberto Acosta

Hugo Francisco Rivella - Argentina

EL HIJO MUERTO

“El mundo ya no es digno de la palabra”
Javier Sicilia


El poeta ha escrito el último poema porque en la calle,
solo,
sin cielo ni banderas,
yace el hijo tendido.
¿Cómo podrán sus ojos saciar mi calavera?
¿Cómo podrá la noche tapar su rastro en mí?
¿Cómo podré quitar del mar sus trágicos caballos y el carruaje de espejos que lo han visto morir?
Javier Sicilia oculta su rostro entre las manos
¿Quién lo puede tocar?
¿Con qué canción de cuna se dormirá la muerte?
¿En qué zona del cuerpo me acuchillan sus lágrimas?
¿Qué flor pondré en el huerto cubierto por la nieve?
Arrojo este poema al fondo de la noche.


O FILHO MORTO

“O mundo já não é digno da palavra”
Javier Sicilia


O poeta tem escrito o último poema porque na rua,
só,
sem céu nem bandeiras,
jaze o filho tendido.
¿Como poderá os seus olhos saciar a minha caveira?
¿Como poderá a noite tapar seu rasto em mim?
¿Como poderei tirar do mar os seus trágicos cavalos e o carruagem de espelhos que o tem visto morrer?
Javier Sicilia oculta o seu rosto entre as mãos
¿Quem o pode tocar?
¿Com que acalanto se dormirá a morte?
¿Em que zona do corpo me esfaqueiam as suas lágrimas?
¿Que flor porei no horto coberto pela neve?
Arremesso este poema ao fundo da noite.


Traducción: Alberto Acosta

Hugo Francisco Rivella - Argentina

¿Qué quedará de mí?


¿Qué quedará de mí?
Soy el estampido de la bala.
Nada.
Lo que asusta al demente y lo trajina.
El miedo como un músculo adherido al hueso de una estatua.
¿Quién mirará este rostro cuando muera?
Solo sombra el recuadro en la penumbra.
Un rostro de otro rostro que no ha sido porque ha sido un pasar su voz y su estatura, sus lecciones de álgebra y moral,
la danza del hollín en el incendio.
En la fotografía queda mi soledad de espejo.


¿O que ficará de mim?


¿O que ficará de mim?
Sou o estampido da bala.
Nada.
O que assusta ao demente e o acarreta.
O medo como um músculo aderido ao osso duma estátua.
¿Quem olhará esse rosto coando mora?
Só sombra a moldura na penumbra.
Um rosto de outro rosto que não tem sido porque tem sido um passar a sua voz e os sua estatura, as suas lições de álgebra e moral,
a dança do fuligem no incêndio.
Na fotografía fica a minha solidão de espelho.


Traducción: Alberto Acosta

Fotografía: Aída Ovando

10 sept 2011

Convite de Ronaldo Cagiano



Ao amigos e escritores, convido para o lançamento de meu novo livro

“O sol nas feridas”

Será um prazer contar com a presença de vocês.
Abraços
Ronaldo Cagiano


Dia: 21/9
Local: Casa das Rosas
Hora: A partir das 19h
Endereço: Av. Paulista, 37 - São Paulo – SP


***

24/9 – Belo Horizonte – MG
27/9 – Vitória – ES
30/9 – Brasília - CF