13 may 2013

Ascânio Lopes - Brasil


CATAGUASES
Para Carlos Drummond de Andrade

Nem Belo Horizonte, colcha de retalhos iguais,
cidade européia de ruas retas, árvores certas,
casas simétricas,
crepúsculos bonitos, sempre bonitos;
Nem Juiz de Fora. Ruído. Rumor.
Apitos. Klaxons.
Cidade inglêsa* de céu esfumaçado, cheio de chaminés negras;
Nem Ouro Prêto, cidade morta,
Bruges sem Rodenbach,
onde estudantes passadistas continuam a tradição das coisas
[ que já esquecemos;
Nem Sabará, cidade relíquia,
onde não se pode tocar, para não desmanchar o passado
[ arrumadinho;
Nem Estrêla do Sul, a sonhar com tesouros,
tesouros nos cascalhos extintos de seu rio barrento;
Nem Uberaba, nem, nem, cidades arrivistas de gente que não
[ pretende ficar.
Nã-o ! Cataguazes... Há coisa mais bela e serena oculta
[ nos teus flancos.
Nas tuas ruas brinca a inconsciência das cidades
que nunca foram, que não cuidam de ser.
Não sabes, não sei, ninguém compreenderá jamais o que
[ desejas, o que serás.
Não és do passado, não és do futuro; não tens idade...
Só sei que és
a mais mineira cidade de Minas Gerais...
Nem geometria, nem estilo europeu, nem invasão americana
[ de bangalôs derniecri.
Tuas casas são largas casas mineiras feitas na previsão de
muitos hóspedes.
Não há em ti o terror das cidades plantadas na mata virgem.
Nem ramerrão dos bondes atrasados, cheios de gente apressada.
Nem os dísticos de aqui estêve aqui aconteceu.
Nem o tintim áspero dos padeiros.
Nem a buzina incômoda dos tintureiros.
Teus leiteiros ainda levam o leite em burricos,
os padeiros deixam o pão à janela (cidade mineira).
Teu amanhecer é suave.
Que alegria de ter só gente conhecida faz teu habitante voltar-se
[ para cumprimentar todos que passam.
Delícia de não encontrar estrangeiros de olhar agudo, esperto
[ mau, a suspeitar riquezas nas terras.
Alegria dos Fordes brincando (são dois) na praça.
(Depois vão dormir juntinhos numa só garagem).
Jacaré !
João Arara!
João Gostoso !
teus tipos populares.
A criançada atira-lhe pedras e êles se voltam imprecando.
Rondas alegres de meninas nas ruas, às tardes, sem perigo
[ de veículos,
papagaios que se embaraçam nos fios de luz, balões que sobem,
foguetes obrigatórios nas festas de chegada do chefe político.
Jardins onde meninas ariscas passeiam meia hora só antes
[ no cinema.
Ar môrno e sensual de voluptuosidade gostosa que vibra
nas tuas tardes chuvosas, quando as goteiras pingam nos
[ passantes
e batem isócronas nos passeios furados.
Há em ti a delícia da vida que passa porque vale a apena passar,
que passa sem dar por isso, sem supor que se vai transformando.
Em ti se dorme tranquilo sem guardas-noturnos.
Mas com o cricri dos grilos,
o ranram dos sapos,
o sono é tranquilo como o de uma criança de colo.
Vale a pena viver em ti.
Nem inquietude,
nem pêso inútil de recordações
Mas confiança que nasce das coisas que não mudam bruscas,
nem ficam eternas.

*o poema aqui reproduzido preserva a ortografia original da época e faz parte do livro Poemas Cronológicos, de 1928.


CATAGUASES
Para Carlos Drummond de Andrade

Ni Belo Horizonte, colcha de retazos iguales,
ciudad europea de calles rectas, árboles correctos,
casas simétricas,
crepúsculos bonitos, siempre bonitos;
Ni Juiz de Fora. Ruido. Rumor.
Pitos. Bocinas.
Ciudad inglesa de cielo humoso, lleno de chimeneas negras;
Ni Ouro Prêto, ciudad muerta,
Brujas sin Rodenbach,
donde estudiantes pasatistas continúan la tradición de las cosas
[ que ya olvidamos;
Ni Sabará, ciudad reliquia,
donde no se puede tocar, para no derrumbar el pasado
[ ordenadito;
Ni Estrêla do Sul, que sueña con tesoros,
tesoros en los cascajos extintos de su río barroso;
Ni Uberaba, ni, ni, ciudades arribistas de gente que no
[ pretende quedarse.
No-o ! Cataguazes... Hay cosas más bellas y serenas ocultas
[ en tus flancos.
En tus calles juega la inconciencia de las ciudades
que nunca fueron, que no piensan ser.
No sabes, no sé, nadie comprenderá jamás lo que
[ deseas, lo que serás.
No eres del pasado, no eres del futuro; no tienes edad...
Sólo se que eres
la más minera ciudad de Minas Gerais...
Ni geometría, ni estilo europeo, ni invasión americana
[ de bungalós modernos.
Tus casas son largas casas mineras hechas en previsión de
muchos huéspedes.
No hay en ti el terror de las ciudades plantadas en la selva virgen.
Ni el rugir de los ómnibus atrasados, llenos de gente con prisa.
Ni los dísticos de aquí estuvo, aquí sucedió.
Ni el tintín áspero de los panaderos.
Ni la bocina incómoda de los tintoreros.
Tus lecheros aún llevan la leche en borricos,
los panaderos dejan el pan en la ventana (ciudad minera).
Tu amanecer es suave.
Qué alegría tener sólo gente conocida, hace que tu habitante se vuelva
[ a saludar a todos los que pasan.
Delicia de no encontrar extranjeros de mirada aguda, experta
[ mano, que sospechan riquezas en las tierras.
Alegía de los Fordes jugando (son dos) en la plaza.
(Después dormirán juntos en un mismo garaje).
Jacaré !
João Arara!
João Gostoso !
tus tipos populares.
La muchachada les tira piedras y ellos se vuelven imprecando.
Rondas alegres de niñas en las calles, por las tardes, sin peligro
[ de vehículos,
papagayos que se estorban en los cables de luz, globos que suben,
fogatas obligatorias en las fiestas de llegada del jefe político.
Jardines donde niñas ariscas pasean media hora sólo antes
[ en el cine.
Aire tibio y sensual de voluptuosidad hermosa que vibra
en tus tardes lluviosas, cuando las goteras mojan a los
[ transeúntes
y golpean isócronas en los paseos frustrados.
Hay en ti la delicia de la vida que pasa porque vale la pena pasar,
que pasa sin darse cuenta, sin suponer que se va transformando.
En ti se duerme tranquilo sin guardias nocturnos.
Mas con el cricri de los grillos,
el ranran de los sapos,
el sueño es tranquilo como el de un niño de pecho.
Vale la pena vivir en ti.
Ni inquietud,
ni peso inútil de recuerdos
Mas confianza que nace de las cosas que no cambian bruscamente,
ni permanecen eternas.

Traducción: Alberto Acosta.-

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