DENTRO DA NOITE VELOZ (1975 - Ed. Civilizaçao Brasileira)
Na Quebrada do Yuro eram 13.30 horas (em São Paulo era mais tarde; em Paris anoitecera; na Ásia o sono era seda) Na Quebrada do rio Yuro a claridade da hora mostrava seu fundo escuro: as águas limpas batiam sem pasado e sem futuro. Estalo de mato, pio de ave, brisa nas folhas era silêncio o barulho a paisagem (que se move) está imóvel, se move dentro de si (igual que uma máquina de lavar lavando sob o céu boliviano, a paisagem com suas polias e correntes de ar) Na Quebrada do Yuro não era hora nenhuma só pedras plantas e águas
II
Não era hora nenhuma até que um tiro explode em pássaros e animais até que passos vozes na água rosto nas folhas peito ofegando a clorofila penetra o sangue humano e a hitória se move a paisagem como um trem comença a andar Na Quebrada do Yuro eram 13.30 horas
III
Ernesto Che Guevara teu fim está perto não basta estar certo pra vencer a batalla
Ernesto Che Guevara entrega-te á prisâo não basta ter razão pra não morrer de bala
Ernesto Che Guevara não estejas iludido a bala entra em teu corpo como em qualquer bandido
Ernesto Che Guevara por que lutas ainda? a batalha está finda antes que o dia acabe
Ernesto Che Guevara é chegada a tua hora e o povo ignora se por ele lutavas
IV
Correm as águas do Yuro, o tiroteio agora é mais intenso, o inimigo avança e fecha o cerco. Os guerrilheiros em grupos pequeños divididos agüentam a luta, protegem a retirada dos companheiros feridos. No alto, grandes massas de nuvens se deslocam lentamente sobrevoando países em direção ao Pacifico, de cabeleira azul. Uma greve em Santiago. Chove na Jamaica. Em Buenos Aires há sol nas alamedas arborizadas, um general maquina um golpe. Uma família festeja bodas de prata num trem que se aproxima de Montevideo. Á beira da estrada muge um boi da Swift. A Bolsa no Rio fecha em alta ou baixa. Inti Peredo, Benigno, Urbano, Eustáquio, Ñato castigam o avanço dosrangers. Urbano tomba, Eustáquio, Che Guevara sustenta o fogo, uma rajada o atinge, atira ainda, solve-se-lhe o joelho, no espanto os companheiros voltam para apanhá-lo. É tarde. Fogem. A noite veloz se fecha sobre o rosto dos mortos.
V
Não está morto, só ferido. Num helicóptero ianque é levado para Higuera onde a morte o espera
Não morrerá das feridas ganhas no combate mas de mão assassina que o abate
Não morrerá das feridas ganhas a céu aberto mas de un golpe escondido ao nacer do dia
Assim o levam pra morte (sujo de terra e de sangue) subjugado no bojo de um helicóptero ianque
E o seu último vôo sobre América Latina sob o fulgor das estrelas que nada sabem dos homens
que nada sabem do sonho, da esperança, da alegria, da luta surda do homem pela flor de cada dia
É o seu último vôo sobre a choupana de homens que não sabem o que se passa naquela noite de outubro
quem passa sobre seu teto dentro dequele barulho quem é levado pra morte naquela noite noturna
VI
A noite é mais veloz nos trópicos (com seus na vertigem das folhas na explosão monturos) das águas sujas surdas nos pantanais émais veloz sob a pele da treva, na conspiração da azuis e vermelhos pulsando como vaginas frutos bocas vegetais (confundidos nos sonhos) ou um ramo florido feito um relâmpago parado sobre uma cisterna d`água no escuro É mais funda a noite no sono do homen na sua carne de coca e de fome e dentro do pote uma caneca de lata velha de ervilha da Armour Company
A noite é mais veloz nos trópicos com seus monturos e cassinos de jogo entre as pernas das putas o assalto a mão armada aberta em sangue a vida É mais veloz (e mais demorada) nos cárceres a noite latino-americana entre interrogatórios e torturas (lá fora as violetas) e mais violenta (a noite) na cona da dictadura
Sob a pele da treva, os frutos crescem conspira o açúcar (de boca para baixo) debaixo das pedras, debaixo da palavra escrita no muro ABAIX e inacabada ó Tlalhuicole as vozes soterradas da platina Das plumas que ondularam já não resta mais que a lembrança no vento Mas é o dia (com seus monturos) pulsando dentro do chão como um pulso apesar da South American Gold and Platinum é a lingual do dia no azinhavre Golpeábamos en tanto los muros de adobe y era nuestra herencia una red de agujeros é a língua do homen sob a noite no leprosário de San Pablo nas ruínas de Tiahuanaco nas galerias de chumbo e silicose da Cerro da Pasco Corporation Hemos comido grama salitrosa piedras de adobe lagartijas ratones tierra en polvo y gusanos até que o dia (de dentro dos monturos) irrompa con seu bastão de turquesa
VII
Súbito vimos ao mundo e nos chamamos Ernesto Súbito vimos ao mundo e estamos na América Latina
Mas a vida onde está nos preguntamos Nas tavernas? nas eternas tardes tardas? nas favélas onde a história fede a merda? no cinema? na fêmea caverna de sonhos e de urina? ou na ingrata faina do poema? (a vida que se esvai no estuário do Prata)
Serei cantor Serei poeta Responde o cobre (da Anacoda Copper):
Serás assaltante e proxeneta policial jagunço alcagüeta
Serei pederasta e homicida? serei viciado? Responde o ferro (da Bethehem Steel): Serás ministro de Estado e suicida
Serei dentista? talvez quem sabe oftalmologista? otorrinolaringologista? Responde a bauxita (da Kaiser Aluminium): serás médico aborteiro que dá mais dinheiro
Serei um merda quero ser um merda Quero de fato viver. Mas onde está essa imunda vida – mesmo imunda? No hospicio? num santo oficio? no orificio da bunda? Devo mudar o mundo, a República? A vida terei de plantá-la como um estandarte em praça pública?
VIII
A vida muda como a cor dos frutos lentamente e para sempre A vida muda como a flor em fruto velozmente A vida muda como a água em folhas o sonho em luz eléctrica a rosa desembrulha de carbono o pássaro da boca mas quando for tempo E é tempo todo tempo mas não basta um século para fazer a pétala que um só minuto faz ou não mas a vida muda a vida muda o morto em multidão
En la Quebrada del Yuro eran 13:30 horas (en São Paulo era más tarde; en París había anochecido; en Asia el sueño era seda) En la Quebrada del Río Yuro la claridad de la hora mostraba su fondo oscuro: las aguas limpias latían sin pasado y sin futuro. Crujido del matorral, pío de ave, brisa en las hojas era silencio el ruido el paisaje (que se mueve) está inmóvil, se mueve dentro de sí (igual que una máquina de lavar lavando bajo el cielo boliviano, el paisaje con sus poleas y corrientes de aire) En la Quebrada del Yuro no era ninguna hora sólo piedras plantas y aguas
II
No era ninguna hora hasta que un disparo estalla en pájaros y animales hasta que unos pasos voces en el agua rostro en las hojas pecho jadeante la clorofila penetra la sangre humana y la historia se mueve el paisaje como un tren comienza a andar En la Quebrada del Yuro eran 13:30 horas
III
Ernesto Che Guevara se acerca tu fin no basta ser justo para vencer batallas
Ernesto Che Guevara entrégate a la prisión no basta tener razón para no morir de bala
Ernesto Che Guevara no te hagas ilusiones la bala entra en tu cuerpo como en cualquier bandido
Ernesto Che Guevara ¿Por qué luchas todavía? la batalla está acabada antes de acabar el día
Ernesto Che Guevara ha llegado tu hora y el pueblo ignora si por él luchabas
IV
Corren las aguas del Yuro, el tiroteo ahora es más intenso, el enemigo avanza y cierra el cerco. Los guerrilleros en pequeños grupos divididos aguantan la lucha, protegen la retirada de los compañeros heridos. En lo alto grandes masas de nubes se dislocan lentamente sobrevolando países en dirección al Pacífico, de cabellera azul. Una huelga en Santiago. Llueve en Jamaica. En Buenos Aires hay sol en las alamedas arboladas, un general maquina un golpe. Una familia festeja bodas de plata en un tren que se acerca a Montevideo. Al borde de la carretera muge un buey de la Swift. La Bolsa de Río cierra en alta o baja. Inti Peredo, Benigno, Urbano, Eustaquio, Ñato castigan el avance de losrangers. Urbano cae, Eustaquio, Che Guevara sustenta el fuego, lo alcanza una ráfaga, dispara todavía, se le disuelve la rodilla, en el espanto los compañeros, vuelven para recogerlo. Es tarde. Huyen. La noche veloz se cierra sobre el rostro de los muertos.
v
No está muerto, sólo herido. Un helicóptero yanqui lo lleva para La Higuera donde la muerte lo espera
No morirá por heridas obtenidas en combate sino de mano asesina que lo abate
No morirá por heridas que recibió a cielo abierto sino de un golpe escondido al nacer el día
Lo llevan así a la muerte (sucio de tierra y de sangre) sometido en la barriga de un helicóptero yanqui
Ese es su último vuelo sobre América Latina bajo el fulgor de los astros que ignoran el mundo humano
que ignoran todo del sueño de esperanza, de alegría, la lucha sorda del hombre por la flor de cada día
Ese es su último vuelo sobre las chozas de hombres que no saben lo que pasa aquella noche de octubre
Quién pasa sobre su techo dentro de todo el barullo quién es llevado a la muerte en esa noche nocturna
VI
La noche es más veloz en los trópicos (con sus muladares) en el vértigo de las hojas en explosión de aguas sucias sordas en los pantanales es más veloz bajo la piel de tiniebla, en la conspiración de azules y rojos pulsando como vaginas frutos bocas vegetales (confundidos en sueños) o un ramo florido hecho un relámpago parado sobre una cisterna de agua en lo oscuro Es más honda la noche en el sueño del hombre en su carne de coca de hambre y en el tarro un cuenco de lata roja de arvejas de la Armour Company
La noche es más veloz en los trópicos con sus muladares y casinos de juegos entre las piernas de las putas el asalto a mano armada abierta en sangre y vida Es más veloz (y más lenta) en las cárceles la noche latinoamericana entre interrogatorios y torturas (allá afuera las violetas) y más violenta (la noche) en el coño de la dictadura
Bajo la piel de tiniebla, los frutos crecen conspira el azúcar (de boca para abajo) debajo de piedras, debajo de la palabra escrita en el muro ABAJ e inconclusa oh Tlalhuicole las voces soterradas de la platina De las plumas que ondularon ya no resta más que el recuerdo en el viento Pero es el día (con sus muladares) pulsando dentro del suelo como un pulso a pesar de la South American Gold and Platinum es la lengua del día en el cardenillo Golpeábamos en tanto los muros de adobe y era nuestra herencia una red de agujeros es la lengua del hombre bajo la noche en la leprosería de San Pablo en las ruinas de Tihuanaco en las galerías de plomo y silicosis de la Cerro de Pasco Corporation Hemos comido grama salitrosa piedras de adobe lagartijas ratones tierra en polvo y gusanos hasta que el día (desde dentro de los muladares) irrumpa con su cetro de turquesa
VII
Venimos de súbito al mundo y nos llamamos Ernesto Venimos de súbito al mundo y estamos en América Latina Mas la vida dónde está nos preguntamos ¿En las tabernas? ¿en las eternas tardes tardas? ¿en las favelas donde la historia hiede a mierda? ¿en el cine? ¿en la hembra caverna de sueños y de orina? ¿o en la ingrata faena del poema? (la vida que se escurre en el estuario del Plata)
¿Seré cantor? ¿seré poeta? Responde el cobre (de la Anaconda Copper) Serás asaltante y proxeneta policía bandido alcahuete
¿Seré pederasta y homicida? ¿seré viciado? Responde el hierro (de la Bethlehem Steel): Serás ministro de estado y suicida ¿Seré dentista? ¿Tal vez por qué no oftalmólogo? ¿otorrinolaringólogo? Contesta la bauxita (de la Kaiser Aluminium): serás médico abortero que da más dinero
Seré un mierda quiero ser un mierda Quiero vivir de hecho ¿Pero dónde está esa inmunda vida aunque sea inmunda? ¿En el hospicio? ¿en un santo oficio? ¿en el orificio del culo? ¿Debo cambiar el mundo, la República? La vida ¿tendré que plantarla en plaza pública?
VIII
La vida cambia como el color de los frutos lentamente y para siempre La vida cambia como la flor por fruto velozmente La vida cambia como el agua por hojas el sueño por luz eléctrica la rosa se desprende del carbono el pájaro de la boca pero cuando sea tiempo Y todo el tiempo es tiempo pero no basta un siglo para hacer un pétalo que un solo minuto hace o no pero la vida cambia la vida cambia al muerto por multitud
Traducción: Alfredo Fressia De: Animal Transparente - (2009 – La Cabra Ediciones)