24 sept 2009
Anderson Braga Horta
ÓRFICA em português
I
Que ser é esse de que o céu se espanta?
O corpo esquartejado
levam-no os rios, bebem-no os mares,
vai com o vento nos ares.
Faz-se terra na terra.
Torna-se nada em todos os quadrantes.
Mas a cabeça canta.
II
Que corpo é esse
arcaico
animado de um fogo
entre o sagrado e o laico?
Corpo que se destroça,
fogo que se levanta.
III
Ai, o corpo se esfaz em limo, em lama.
As pernas, extintas, erram por seiva.
As mãos, arrancadas, crispam-se por frutos.
Mas a cabeça
canta!
I
Que ser é esse de que o céu se espanta?
O corpo esquartejado
levam-no os rios, bebem-no os mares,
vai com o vento nos ares.
Faz-se terra na terra.
Torna-se nada em todos os quadrantes.
Mas a cabeça canta.
II
Que corpo é esse
arcaico
animado de um fogo
entre o sagrado e o laico?
Corpo que se destroça,
fogo que se levanta.
III
Ai, o corpo se esfaz em limo, em lama.
As pernas, extintas, erram por seiva.
As mãos, arrancadas, crispam-se por frutos.
Mas a cabeça
canta!
Anderson Braga Horta
ÓRFICA (en español)
I
¿Qué ser es ese que aún al cielo espanta?
A su cuerpo cuarteado
lo llevan los ríos, lo beben los mares,
lo sube el viento al aire.
Se hace tierra en la tierra.
Se vuelve nada en todos los cuadrantes.
Mas la cabeza canta.
II
¿Qué cuerpo es ese
arcaico
animado de un fuego
entre sagrado y laico?
Cuerpo que se destroza,
fuego que se levanta.
III
El cuerpo se deshace en limo, en lama.
Las piernas, extintas, yerran por savia.
Las manos, arrancadas, críspanse por los frutos.
Mas la cabeza
¡canta!
(Traducción del Autor)
Datos: Anderson Braga Horta, nasceu em Carangola, Estado de Minas Gerais, Seus livros Altiplano e Outros Poemas (1971), Marvário (1976), Incomunicação (1977), Exercícios de Homem (1978), Cronoscópio (1983), O Cordeiro e a Nuvem (1984), O Pássaro no Aquário (1990) e outros até então inéditos foram enfeixados em Fragmentos da Paixão – Poemas Reunidos (Massao Ohno, São Paulo, 2000).
Além disso, publicou Dos Sonetos na Corda de Sol (EGM–Guararapes, 1999), Pulso (Barcarola, São Paulo, 2000), Quarteto Arcaico e Trinta e Três Sonetos (EGM, 2000 e 2001), Antologia Pessoal (Thesaurus, Brasília, 2001) , 50 Poemas Escolhidos pelo Autor (Galo Branco, Rio, 2003) e Soneto Antigo (2009)
Em prosa, pela Thesaurus: A Aventura Espiritual de Álvares de Azevedo: Estudo e Antologia (2002), Sob o Signo da Poesia: Literatura em Brasília (2003), Testemunho & Participação: Ensaio e Crítica Literária (2005) e Criadores de Mantras: Ensaios e Conferências (2007).
Como tradutor, seu mais recente livro é Traduzir Poesia (Thesaurus, 2004).
I
¿Qué ser es ese que aún al cielo espanta?
A su cuerpo cuarteado
lo llevan los ríos, lo beben los mares,
lo sube el viento al aire.
Se hace tierra en la tierra.
Se vuelve nada en todos los cuadrantes.
Mas la cabeza canta.
II
¿Qué cuerpo es ese
arcaico
animado de un fuego
entre sagrado y laico?
Cuerpo que se destroza,
fuego que se levanta.
III
El cuerpo se deshace en limo, en lama.
Las piernas, extintas, yerran por savia.
Las manos, arrancadas, críspanse por los frutos.
Mas la cabeza
¡canta!
(Traducción del Autor)
Datos: Anderson Braga Horta, nasceu em Carangola, Estado de Minas Gerais, Seus livros Altiplano e Outros Poemas (1971), Marvário (1976), Incomunicação (1977), Exercícios de Homem (1978), Cronoscópio (1983), O Cordeiro e a Nuvem (1984), O Pássaro no Aquário (1990) e outros até então inéditos foram enfeixados em Fragmentos da Paixão – Poemas Reunidos (Massao Ohno, São Paulo, 2000).
Além disso, publicou Dos Sonetos na Corda de Sol (EGM–Guararapes, 1999), Pulso (Barcarola, São Paulo, 2000), Quarteto Arcaico e Trinta e Três Sonetos (EGM, 2000 e 2001), Antologia Pessoal (Thesaurus, Brasília, 2001) , 50 Poemas Escolhidos pelo Autor (Galo Branco, Rio, 2003) e Soneto Antigo (2009)
Em prosa, pela Thesaurus: A Aventura Espiritual de Álvares de Azevedo: Estudo e Antologia (2002), Sob o Signo da Poesia: Literatura em Brasília (2003), Testemunho & Participação: Ensaio e Crítica Literária (2005) e Criadores de Mantras: Ensaios e Conferências (2007).
Como tradutor, seu mais recente livro é Traduzir Poesia (Thesaurus, 2004).
Mariana Ianelli - Almádena (2007)
Almádena (em português)
Almádena, ensina-me a voltar.
Já varri todos os mortos,
Não há restos no chão.
Um quarto branco, uma cadeira,
O meu tempo é o presente,
Não tenho do que me queixar.
Está feito, celebrado.
Janelas e portas abertas,
Na mesa a fruta matutina,
O lírio, o copo d’água.
Uma casa agradável,
Fosse isto uma casa.
Eu me traí, Almádena.
Agora chove,
É uma tal plenitude,
Império absolvido de história.
Quanta memória vencendo,
Cobrindo, cavando o rosto,
Quantos dias, quanto cinzel,
Quantas horas.
Está chovendo ainda.
Eu tenho um rosto sem marcas.
A lua do amarelo ao sono
E essa estátua que me olha.
Uma obra merecida, consumada.
Eu desapareci, Almádena.
Nada cumpre dizer
Tanto quanto dizem esses olhos.
Eu vivo como quem ama,
Eu consinto,
É só o que me cabe.
Dar e repartir, fazer que não sei,
No bronze ser o animal que dorme.
Há uma única lâmpada,
Há um violino
E a mão que o desata.
O vento de quando em quando,
O terço quadrante e a pedra rolada.
Há uma chave que nada guarda.
A terra esplandece,
Consorte de quem parte.
Agora amanhece.
Eu me perdi, Almádena.
Não há rumor nas coisas,
Elas são o que são,
Não desejam explicar-se.
A porcelana, a cambraia, a murta
E a falta de uma asa.
Aqui não existe o medo,
Eu planto e eu desbasto.
As paredes ardem,
A erva recende,
O sol vem do leste,
Tudo em perfeita ordem.
Está pronto, terminado.
Um rasgo, um passo em falso,
Uma sombra,
Agora é tarde.
As cartas não chegam
Nem são enviadas.
A mesa está limpa.
Eu me esqueci, Almádena.
As cores, como elas vibram,
As auroras.
O verde das baixas altitudes,
O vermelho, o azul,
Como entornam.
Eu desço e me arrebento,
Eu despenco, sou forte.
A natureza é forte.
Quatro pilares me suportam.
O céu sobre todas as torres,
Todas as luzes, exceto uma.
As nuvens se cruzam,
Juntam-se e se afastam.
Há uma brisa lá fora.
O corpo está servido,
O corpo está saciado.
Agora anoitece.
Protege-me, Almádena.
Almádena, ensina-me a voltar.
Já varri todos os mortos,
Não há restos no chão.
Um quarto branco, uma cadeira,
O meu tempo é o presente,
Não tenho do que me queixar.
Está feito, celebrado.
Janelas e portas abertas,
Na mesa a fruta matutina,
O lírio, o copo d’água.
Uma casa agradável,
Fosse isto uma casa.
Eu me traí, Almádena.
Agora chove,
É uma tal plenitude,
Império absolvido de história.
Quanta memória vencendo,
Cobrindo, cavando o rosto,
Quantos dias, quanto cinzel,
Quantas horas.
Está chovendo ainda.
Eu tenho um rosto sem marcas.
A lua do amarelo ao sono
E essa estátua que me olha.
Uma obra merecida, consumada.
Eu desapareci, Almádena.
Nada cumpre dizer
Tanto quanto dizem esses olhos.
Eu vivo como quem ama,
Eu consinto,
É só o que me cabe.
Dar e repartir, fazer que não sei,
No bronze ser o animal que dorme.
Há uma única lâmpada,
Há um violino
E a mão que o desata.
O vento de quando em quando,
O terço quadrante e a pedra rolada.
Há uma chave que nada guarda.
A terra esplandece,
Consorte de quem parte.
Agora amanhece.
Eu me perdi, Almádena.
Não há rumor nas coisas,
Elas são o que são,
Não desejam explicar-se.
A porcelana, a cambraia, a murta
E a falta de uma asa.
Aqui não existe o medo,
Eu planto e eu desbasto.
As paredes ardem,
A erva recende,
O sol vem do leste,
Tudo em perfeita ordem.
Está pronto, terminado.
Um rasgo, um passo em falso,
Uma sombra,
Agora é tarde.
As cartas não chegam
Nem são enviadas.
A mesa está limpa.
Eu me esqueci, Almádena.
As cores, como elas vibram,
As auroras.
O verde das baixas altitudes,
O vermelho, o azul,
Como entornam.
Eu desço e me arrebento,
Eu despenco, sou forte.
A natureza é forte.
Quatro pilares me suportam.
O céu sobre todas as torres,
Todas as luzes, exceto uma.
As nuvens se cruzam,
Juntam-se e se afastam.
Há uma brisa lá fora.
O corpo está servido,
O corpo está saciado.
Agora anoitece.
Protege-me, Almádena.
Mariana Ianelli
Almádena (en español)
Almádena, enséñame a volver.
Ya barrí todos los muertos,
No hay más restos en el suelo.
Un cuarto blanco, una silla,
Mi tiempo es el presente,
No tengo de qué quejarme.
Ya está hecho, celebrado.
Ventanas y puertas abiertas,
En la mesa la fruta matutina,
El lirio, el vaso de agua.
Una casa agradable,
Si fuese esto una casa.
Yo me traicioné, Almádena.
Ahora llueve,
Es una tal plenitud,
Imperio absuelto de historia.
Cuánta memoria venciendo,
Cubriendo, cavando el rostro,
Cuántos días, cuánto cincel,
Cuántas horas.
Está lloviendo todavía.
Yo tengo un rostro sin marcas.
La luna del amarillo al sueño
Y esa estatua que me mira.
Una obra merecida, consumada.
Yo desaparecí, Almádena.
Nada obliga a decir
Tanto cuánto dicen esos ojos.
Yo vivo como quien ama,
Yo consiento,
Es sólo lo que me cabe.
Dar y repartir, hacer de cuenta que no sé,
En el bronce ser el animal que duerme.
Hay una única lámpara,
Hay un violín
Y la mano que lo desata.
El viento de cuando en cuando,
El tercio cuadrante y el canto rodado.
Hay una llave que nada guarda.
La tierra resplandece,
Consorte de quien parte.
Ahora amanece.
Yo me perdí, Almádena.
No hay rumor en las cosas,
Ellas son lo que son,
No desean explicarse.
La porcelana, el cambray, el arrayán
Y la falta de un ala.
Aquí no existe el miedo,
Yo planto y yo desbasto.
Las paredes arden,
La hierba da su olor,
El sol viene del este,
Todo en perfecto orden.
Está pronto, terminado.
Un rasgar, un paso en falso,
Una sombra,
Ahora es tarde.
Las cartas no llegan
Ni son enviadas.
La mesa está limpia.
Yo me olvidé, Almádena.
Los colores, cómo ellos vibran,
Las auroras.
El verde de las bajas altitudes,
El rojo, el azul,
Cómo se entornan.
Desciendo y me hago pedazos,
Voy en caída libre, soy fuerte.
La naturaleza es fuerte.
Cuatro pilares me sustentan.
El cielo sobre todas las torres,
Todas las luces, excepto una.
Las nubes se cruzan,
Se juntan y se apartan.
Hay una brisa allá afuera.
El cuerpo está servido,
El cuerpo está saciado.
Ahora anochece.
Protégeme, Almádena.
Datos: Mariana Ianelli nació en Sào Paulo, tiene editados entre otros libros,
Trajetória de antes (1999), Duas Chagas (2001), PASSAGENS (2003), FACER SILÊNCIO (2005) y Almádena (2007).-
Almádena, enséñame a volver.
Ya barrí todos los muertos,
No hay más restos en el suelo.
Un cuarto blanco, una silla,
Mi tiempo es el presente,
No tengo de qué quejarme.
Ya está hecho, celebrado.
Ventanas y puertas abiertas,
En la mesa la fruta matutina,
El lirio, el vaso de agua.
Una casa agradable,
Si fuese esto una casa.
Yo me traicioné, Almádena.
Ahora llueve,
Es una tal plenitud,
Imperio absuelto de historia.
Cuánta memoria venciendo,
Cubriendo, cavando el rostro,
Cuántos días, cuánto cincel,
Cuántas horas.
Está lloviendo todavía.
Yo tengo un rostro sin marcas.
La luna del amarillo al sueño
Y esa estatua que me mira.
Una obra merecida, consumada.
Yo desaparecí, Almádena.
Nada obliga a decir
Tanto cuánto dicen esos ojos.
Yo vivo como quien ama,
Yo consiento,
Es sólo lo que me cabe.
Dar y repartir, hacer de cuenta que no sé,
En el bronce ser el animal que duerme.
Hay una única lámpara,
Hay un violín
Y la mano que lo desata.
El viento de cuando en cuando,
El tercio cuadrante y el canto rodado.
Hay una llave que nada guarda.
La tierra resplandece,
Consorte de quien parte.
Ahora amanece.
Yo me perdí, Almádena.
No hay rumor en las cosas,
Ellas son lo que son,
No desean explicarse.
La porcelana, el cambray, el arrayán
Y la falta de un ala.
Aquí no existe el miedo,
Yo planto y yo desbasto.
Las paredes arden,
La hierba da su olor,
El sol viene del este,
Todo en perfecto orden.
Está pronto, terminado.
Un rasgar, un paso en falso,
Una sombra,
Ahora es tarde.
Las cartas no llegan
Ni son enviadas.
La mesa está limpia.
Yo me olvidé, Almádena.
Los colores, cómo ellos vibran,
Las auroras.
El verde de las bajas altitudes,
El rojo, el azul,
Cómo se entornan.
Desciendo y me hago pedazos,
Voy en caída libre, soy fuerte.
La naturaleza es fuerte.
Cuatro pilares me sustentan.
El cielo sobre todas las torres,
Todas las luces, excepto una.
Las nubes se cruzan,
Se juntan y se apartan.
Hay una brisa allá afuera.
El cuerpo está servido,
El cuerpo está saciado.
Ahora anochece.
Protégeme, Almádena.
Datos: Mariana Ianelli nació en Sào Paulo, tiene editados entre otros libros,
Trajetória de antes (1999), Duas Chagas (2001), PASSAGENS (2003), FACER SILÊNCIO (2005) y Almádena (2007).-
"El futuro es nuestro por prepotencia de trabajo"-Roberto Artl
Ronaldo Cagiano
Ciclo (Em Português)
Para Claudio Sesín
Enquanto o cortejo seguia
em meio aos gestos automáticos
das mãos que cerravam as portas
outros continuavam a vida
imunes à que passava,
despojada de sua última chama.
A cidade não seria diferente
porque amanhã
outras notícias viriam
e o rio no qual navegamos,
Tejo a repetir a lógica de Heráclito,
seguiria pontualmente
como o sangue em nossas veias,
entre urgências que se renovam.
Entre o solene despedir dos mortos
e a maquinal dor dos vivos
a criança se demorava
num olhar pensativo e inquiridor
rumo ao insondável.
E percebia,
ainda na antemanhã de sua existência,
que viver é um lento aprendizado de
extinção.
CICLO (En Español)
“Nadie se baña dos veces en aguas del mismo río.”
Heráclito
Para Claudio Sesín
En cuanto el cortejo seguía
en medio de los gestos automáticos
de las manos que cerraban las puertas
otros continuaban la vida
sin importarles qué sucedía
despojada de su última llama.
La ciudad no sería diferente
porque mañana
otras noticias habría
y un río en el cual navegar.
Tiendo a repetir la lógica de Heráclito,
seguiría en su sitio
como la sangre en nuestras venas,
entre urgencias que se renuevan.
Entre el solemne despedir de los muertos
y el maquinal dolor de vivir
La crianza se demoraba
en un mirar pensativo e inquisidor
rumbo a lo insondable.
Se percibe,
aún en la despedida de su existencia
que vivir es un lento aprendizaje de extinción.
(Traducción del autor)
Ronaldo Cagiano Barbosa nasceu em Cataguases-MG, Livros publicados :
Palavra Engajada (1989), Colheita Amarga & Outras Angústias (1990), Exílio (1990), Palavracesa (1994), O Prazer da Leitura, em parceria com Jacinto Guerra (1997), Prismas – Literatura e Outros Temas (1997), Canção dentro da noite (1999), Espelho, espelho meu, em parceria com Joilson Portocalvo, (2000), "Dezembro indigesto” (2001) .
Organizou também várias antologias, entre elas: Poetas Mineiros em Brasília (2001) e Antologia do Conto Brasiliense (2004) e Todas as Geraçôes (2006).-
Para Claudio Sesín
Enquanto o cortejo seguia
em meio aos gestos automáticos
das mãos que cerravam as portas
outros continuavam a vida
imunes à que passava,
despojada de sua última chama.
A cidade não seria diferente
porque amanhã
outras notícias viriam
e o rio no qual navegamos,
Tejo a repetir a lógica de Heráclito,
seguiria pontualmente
como o sangue em nossas veias,
entre urgências que se renovam.
Entre o solene despedir dos mortos
e a maquinal dor dos vivos
a criança se demorava
num olhar pensativo e inquiridor
rumo ao insondável.
E percebia,
ainda na antemanhã de sua existência,
que viver é um lento aprendizado de
extinção.
CICLO (En Español)
“Nadie se baña dos veces en aguas del mismo río.”
Heráclito
Para Claudio Sesín
En cuanto el cortejo seguía
en medio de los gestos automáticos
de las manos que cerraban las puertas
otros continuaban la vida
sin importarles qué sucedía
despojada de su última llama.
La ciudad no sería diferente
porque mañana
otras noticias habría
y un río en el cual navegar.
Tiendo a repetir la lógica de Heráclito,
seguiría en su sitio
como la sangre en nuestras venas,
entre urgencias que se renuevan.
Entre el solemne despedir de los muertos
y el maquinal dolor de vivir
La crianza se demoraba
en un mirar pensativo e inquisidor
rumbo a lo insondable.
Se percibe,
aún en la despedida de su existencia
que vivir es un lento aprendizaje de extinción.
(Traducción del autor)
Ronaldo Cagiano Barbosa nasceu em Cataguases-MG, Livros publicados :
Palavra Engajada (1989), Colheita Amarga & Outras Angústias (1990), Exílio (1990), Palavracesa (1994), O Prazer da Leitura, em parceria com Jacinto Guerra (1997), Prismas – Literatura e Outros Temas (1997), Canção dentro da noite (1999), Espelho, espelho meu, em parceria com Joilson Portocalvo, (2000), "Dezembro indigesto” (2001) .
Organizou também várias antologias, entre elas: Poetas Mineiros em Brasília (2001) e Antologia do Conto Brasiliense (2004) e Todas as Geraçôes (2006).-
Federico García Lorca
LLANTO POR IGNACIO SÁNCHEZ MEJÌAS
(1935) (Fragmento)
A mi querida amiga
Encarnación López Júlvez.
I
LA COGIDA Y LA MUERTE
A las cinco de la tarde
Eran las cinco en punto de la tarde.
Un niño trajo la blanca sábana
a las cinco de la tarde.
Una espuerta de cal ya prevenida
a las cinco de la tarde.
Lo demás era muerte y sólo muerte
a las cinco de la tarde.
El viento se llevó los algodones
a las cinco de la tarde.
Y el óxido sembró cristal y níquel
a las cinco de la tarde
Ya luchan la paloma y el leopardo
a las cinco de la tarde.
Y un muslo con un asta desolada
a las cinco de la tarde.
Comenzaron los sones de bordón
a las cinco de la tarde.
Las campanas de arsénico y el humo
a las cinco de la tarde.
En las esquinas grupos de silencio
a las cinco de la tarde.
¡Y el toro solo corazón arriba!
a las cinco de la tarde.
Cuando el sudor de nieve fue llegando
a las cinco de la tarde,
cuando la plaza se cubrió de yodo
a las cinco de la tarde,
la muerte puso huevos en la herida
a las cinco de la tarde.
A las cinco de la tarde.
A las cinco en punto de la tarde.
Un ataúd con ruedas es la cama
a las cinco de la tarde.
Huesos y flautas suenan en su oído
a las cinco de la tarde.
El toro ya mugía por su frente
a las cinco do la tarde.
El cuarto se irisaba de agonía
a las cinco de la tarde.
A lo lejos ya viene la gangrena
a las cinco de la tarde.
Trompa de lirio por las verdes ingles
a las cinco de la tarde.
Las heridas quemaban como soles
a las cinco de la tarde,
y el gentío rompía las ventanas
a las cinco de la tarde.
A las cinco de la tarde.
¡Ay, qué terribles cinco de la tarde!
¡Eran las cinco en todos los relojes!
¡Eran las cinco en sombra de la tarde!
(1935) (Fragmento)
A mi querida amiga
Encarnación López Júlvez.
I
LA COGIDA Y LA MUERTE
A las cinco de la tarde
Eran las cinco en punto de la tarde.
Un niño trajo la blanca sábana
a las cinco de la tarde.
Una espuerta de cal ya prevenida
a las cinco de la tarde.
Lo demás era muerte y sólo muerte
a las cinco de la tarde.
El viento se llevó los algodones
a las cinco de la tarde.
Y el óxido sembró cristal y níquel
a las cinco de la tarde
Ya luchan la paloma y el leopardo
a las cinco de la tarde.
Y un muslo con un asta desolada
a las cinco de la tarde.
Comenzaron los sones de bordón
a las cinco de la tarde.
Las campanas de arsénico y el humo
a las cinco de la tarde.
En las esquinas grupos de silencio
a las cinco de la tarde.
¡Y el toro solo corazón arriba!
a las cinco de la tarde.
Cuando el sudor de nieve fue llegando
a las cinco de la tarde,
cuando la plaza se cubrió de yodo
a las cinco de la tarde,
la muerte puso huevos en la herida
a las cinco de la tarde.
A las cinco de la tarde.
A las cinco en punto de la tarde.
Un ataúd con ruedas es la cama
a las cinco de la tarde.
Huesos y flautas suenan en su oído
a las cinco de la tarde.
El toro ya mugía por su frente
a las cinco do la tarde.
El cuarto se irisaba de agonía
a las cinco de la tarde.
A lo lejos ya viene la gangrena
a las cinco de la tarde.
Trompa de lirio por las verdes ingles
a las cinco de la tarde.
Las heridas quemaban como soles
a las cinco de la tarde,
y el gentío rompía las ventanas
a las cinco de la tarde.
A las cinco de la tarde.
¡Ay, qué terribles cinco de la tarde!
¡Eran las cinco en todos los relojes!
¡Eran las cinco en sombra de la tarde!
17 sept 2009
En un sitio que acaso ya no exista
a mi madre, Reina
08/09/1930 - 09/09/2009
Yo les cuento tan sólo lo evidente.
El rocío terrestre en las mañanas
y las hierbas cargadas de cristales,
vencidas a la orilla de la acequia
por donde el agua puede con la escarcha.
Es un pueblo de álamos, montañas y silencio.
No sé porqué este invierno he querido contarles los detalles,
quizás porque no vuelva con las manos heladas y raspadas,
a buscar un pedazo de tortilla en el humo interior de los braceros.
Y les cuento, que las mañanas de invierno son tan bonitas
como los festejados atardeceres del verano.
Ahora es tiempo de ir hacia la tierra,
no hay otro modo donde el hombre vuelva
a su propia simiente renovado.
Los pequeños rastrojos, los callejones íntimos,
casi un camino cruzando el pensamiento.
Hasta esa dignidad en la pobreza,
para vergüenza de otros,
es parte de mi pueblo y su recuerdo.
Claudio Sesín
08/09/1930 - 09/09/2009
Yo les cuento tan sólo lo evidente.
El rocío terrestre en las mañanas
y las hierbas cargadas de cristales,
vencidas a la orilla de la acequia
por donde el agua puede con la escarcha.
Es un pueblo de álamos, montañas y silencio.
No sé porqué este invierno he querido contarles los detalles,
quizás porque no vuelva con las manos heladas y raspadas,
a buscar un pedazo de tortilla en el humo interior de los braceros.
Y les cuento, que las mañanas de invierno son tan bonitas
como los festejados atardeceres del verano.
Ahora es tiempo de ir hacia la tierra,
no hay otro modo donde el hombre vuelva
a su propia simiente renovado.
Los pequeños rastrojos, los callejones íntimos,
casi un camino cruzando el pensamiento.
Hasta esa dignidad en la pobreza,
para vergüenza de otros,
es parte de mi pueblo y su recuerdo.
Claudio Sesín
7 sept 2009
Hoja Nº 3 de los Navegantes
Raúl Galán
Copla
"Ya se escucha amiga mía
la musiquita de siempre,
para que cante la vida,
toca su caja la muerte."
Copla
"Ya se escucha amiga mía
la musiquita de siempre,
para que cante la vida,
toca su caja la muerte."
Carlos Garro Aguilar
ES OTOÑO Y EL AIRE SE ADELGAZA
Al fondo del callejón de la nostalgia
pasa el río ante la sombra de tu cuerpo,
ante la sombra de mi cuerpo que te busca
deslumbrado y sediento, entre la hierba.
Es Abril y el aire de adelgaza,
las bandadas regresan,
pero insomne el recuerdo te desnuda
junto al hogar de la vieja casona
escondida en el tiempo.
Luaba de la lluvia, de la dulce hojarasca
que danza hacia el olvido.
Luaba, ala alta, pura, fugitiva,
símil ardiente del ángel de las frondas.
Es otoño y el aire se adelgaza.
Grácil murmura el agua bajo el límpido
sortilegio del día.
Vulnerable,
inventan las palabras
tu regreso.
Al fondo del callejón de la nostalgia
pasa el río ante la sombra de tu cuerpo,
ante la sombra de mi cuerpo que te busca
deslumbrado y sediento, entre la hierba.
Es Abril y el aire de adelgaza,
las bandadas regresan,
pero insomne el recuerdo te desnuda
junto al hogar de la vieja casona
escondida en el tiempo.
Luaba de la lluvia, de la dulce hojarasca
que danza hacia el olvido.
Luaba, ala alta, pura, fugitiva,
símil ardiente del ángel de las frondas.
Es otoño y el aire se adelgaza.
Grácil murmura el agua bajo el límpido
sortilegio del día.
Vulnerable,
inventan las palabras
tu regreso.
Carlos Garro Aguilar
HAY UNA AUSENCIA LUMINOSA MOJADA DE DESEO
El verano partió y por la alcoba, insomne,
discurre tu fragancia.
Ángeles de almizcle y madreselva
para exhumar sobre la almohada
el vórtice escurrido del deseo.
Hay una ausencia luminosa que alimenta tu sombra.
Oquedad sin materia donde estalla tu nombre.
Cae una hoja, el gato se acurruca, lejos, un pájaro
enciende los metales de la tarde.
Y las manos aquí, hilvanando en el aire,
una caricia hambrienta,
descargando en las sombras
la insomne memoria de las yemas,
la dulce fosforescencia
que robó de tu cuerpo.
El verano partió y por la casa
hay una ausencia luminosa mojada de deseo.
Datos: Carlos Garro Aguilar, nació en El Fortín, Córdoba.
Es licenciado en Filosofía. Libros Publicados: Las Voces Incesantes (1984), Las Máscaras del Alba (1987), Puertas (2001), Fábula de Octubre (2003), Cannabis (2006) y Salvaje Estío (2009).-
El verano partió y por la alcoba, insomne,
discurre tu fragancia.
Ángeles de almizcle y madreselva
para exhumar sobre la almohada
el vórtice escurrido del deseo.
Hay una ausencia luminosa que alimenta tu sombra.
Oquedad sin materia donde estalla tu nombre.
Cae una hoja, el gato se acurruca, lejos, un pájaro
enciende los metales de la tarde.
Y las manos aquí, hilvanando en el aire,
una caricia hambrienta,
descargando en las sombras
la insomne memoria de las yemas,
la dulce fosforescencia
que robó de tu cuerpo.
El verano partió y por la casa
hay una ausencia luminosa mojada de deseo.
Datos: Carlos Garro Aguilar, nació en El Fortín, Córdoba.
Es licenciado en Filosofía. Libros Publicados: Las Voces Incesantes (1984), Las Máscaras del Alba (1987), Puertas (2001), Fábula de Octubre (2003), Cannabis (2006) y Salvaje Estío (2009).-
Luiz Roberto Guedes
Lucky Hotel
demoliram o hoteleco
decadente desde décadas
ninho de amantes discretos
templo barato de eros
piras de camas rangentes
velho sobrado assombrado
por estalos de assoalhos
todo o esqueleto de tábua
gemidos e ais alados
o gozo em toda a escala
agora nunca existiu
ilha alguma nem navio
onde tivemos um porto
de ancorar nossos corpos
só um terreno vazio
farewell, lucky hotel
onde navegamos
tanto mar e céu
nem sinal do tempo
em que nos amamos
por fim, completos estranhos
Lucky Hotel
demolieron el albergue
decadente desde décadas
nido de amantes discretos
templo barato de eros
piras de camas crujientes
caserón viejo asombrado
por chasquidos del parqué
en su esqueleto de tablas
gemidos, llantos alados
y placer a toda escala
ahora nunca existió
isla alguna ni navío
donde tuvimos un puerto
para anclar a nuestros cuerpos
sólo un terreno vacío
farewell, lucky hotel
donde navegamos
tanto mar y cielo
ni hay señal del tiempo
en que nos amamos
por fin, completos extraños
Tradução de Cristian de Nápoli
demoliram o hoteleco
decadente desde décadas
ninho de amantes discretos
templo barato de eros
piras de camas rangentes
velho sobrado assombrado
por estalos de assoalhos
todo o esqueleto de tábua
gemidos e ais alados
o gozo em toda a escala
agora nunca existiu
ilha alguma nem navio
onde tivemos um porto
de ancorar nossos corpos
só um terreno vazio
farewell, lucky hotel
onde navegamos
tanto mar e céu
nem sinal do tempo
em que nos amamos
por fim, completos estranhos
Lucky Hotel
demolieron el albergue
decadente desde décadas
nido de amantes discretos
templo barato de eros
piras de camas crujientes
caserón viejo asombrado
por chasquidos del parqué
en su esqueleto de tablas
gemidos, llantos alados
y placer a toda escala
ahora nunca existió
isla alguna ni navío
donde tuvimos un puerto
para anclar a nuestros cuerpos
sólo un terreno vacío
farewell, lucky hotel
donde navegamos
tanto mar y cielo
ni hay señal del tiempo
en que nos amamos
por fin, completos extraños
Tradução de Cristian de Nápoli
Luiz Roberto Guedes
hola, herrerasaurus
um falso esqueleto de dinossauro
decora o saguão do Hotel Alkazar
|em San Juan, Argentina|
réplica perfeita |vértebras, costelas
presas, garras| até a última falangeta
do herrerasaurus descoberto por
um senhor Herrera em Ischigualasto
|jazida de fósseis ao sol
e árvores petrificadas|
também chamado Valle de la Luna
por suas rochas esculpidas
pela erosão de eras
o monstrengo de seus três metros
se ainda fascina alguma criança
parece apenas banal — irrelevante
bibelô triássico a um passo do kitsch
|como plantas e flores de plástico|
para as senhoras de cabelos lilases
que tomam seu chá no Alkazar
quando seria um memento mori
para os viajantes entorpecidos de
sol e vinho, o calor de 44 graus
o hálito ardente do vento zonda
o uivo noturno do vento sur
sombra funesta em nossa fiesta
augura sua eterna siesta
que les vaya bien, caballeros
hola, herrerasaurus
un falso esqueleto de dinosaurio
decora el zaguán del Hotel Alkazar
|en San Juan, Argentina|
réplica perfecta |vértebras, costillas
colmillos, garras | hasta la última falangeta
del herrerasaurus descubierto por
un señor Herrera, en Ischigualasto
|yacimiento de fósiles al sol
y árboles petrificados |
también llamado Valle de la Luna
por sus rocas esculpidas
por la erosión de eras
el monstruengo de tres metros
si aun fascina a algún niño
parece apenas banal – irrelevante
bibelot triásico a un paso de lo kitsch
|como plantas y flores de plástico|
para las señoras de cabellos lilas
que toman su té en el Alkazar
cuando sería un memento mori
para los viajeros entorpecidos de
sol y vino, el calor de 44 grados
el aliento ardiente del viento zonda
el aullido nocturno del viento sur
sombra funesta en nuestra fiesta
augura su eterna siesta
que les vaya bien, caballeros
[San Juan, Noviembre 2002]
Tradução de WALTER LOUZÁN
um falso esqueleto de dinossauro
decora o saguão do Hotel Alkazar
|em San Juan, Argentina|
réplica perfeita |vértebras, costelas
presas, garras| até a última falangeta
do herrerasaurus descoberto por
um senhor Herrera em Ischigualasto
|jazida de fósseis ao sol
e árvores petrificadas|
também chamado Valle de la Luna
por suas rochas esculpidas
pela erosão de eras
o monstrengo de seus três metros
se ainda fascina alguma criança
parece apenas banal — irrelevante
bibelô triássico a um passo do kitsch
|como plantas e flores de plástico|
para as senhoras de cabelos lilases
que tomam seu chá no Alkazar
quando seria um memento mori
para os viajantes entorpecidos de
sol e vinho, o calor de 44 graus
o hálito ardente do vento zonda
o uivo noturno do vento sur
sombra funesta em nossa fiesta
augura sua eterna siesta
que les vaya bien, caballeros
hola, herrerasaurus
un falso esqueleto de dinosaurio
decora el zaguán del Hotel Alkazar
|en San Juan, Argentina|
réplica perfecta |vértebras, costillas
colmillos, garras | hasta la última falangeta
del herrerasaurus descubierto por
un señor Herrera, en Ischigualasto
|yacimiento de fósiles al sol
y árboles petrificados |
también llamado Valle de la Luna
por sus rocas esculpidas
por la erosión de eras
el monstruengo de tres metros
si aun fascina a algún niño
parece apenas banal – irrelevante
bibelot triásico a un paso de lo kitsch
|como plantas y flores de plástico|
para las señoras de cabellos lilas
que toman su té en el Alkazar
cuando sería un memento mori
para los viajeros entorpecidos de
sol y vino, el calor de 44 grados
el aliento ardiente del viento zonda
el aullido nocturno del viento sur
sombra funesta en nuestra fiesta
augura su eterna siesta
que les vaya bien, caballeros
[San Juan, Noviembre 2002]
Tradução de WALTER LOUZÁN
Luiz Roberto Guedes
o deserto cresce
...ai de quem abriga desertos!
Nietzsche
O deserto é um esqueleto.
Luminudez. Nenhum olhar povoa.
O vento recria a paisagem lunar.
Usina de tempo, o deserto rói ossos
|baleias celacantos megatérios mamutes
tigres dentes-de-sabre| rói rochas e
deuses de pedra com dentes de
areia por cem milhões de anos.
Obra em progresso
|oceano sorvido|
|éden tropical pulverizado|
o deserto remonta sua
estação permanente.
O deserto é paciente.
el desierto crece
… ¡ay de quien abriga desiertos!
Nietzche
El desierto es un esqueleto
Luminudez. Ninguna mirada puebla.
El viento recrea el paisaje lunar.
Usina de tiempo, el desierto roe
huesos|ballenas celacantos megaterios
mamuts tigres dientes de sable| roe
rocas y dioses de piedra con dientes
de arena por cien millones de años.
Obra en andamiento
|océano sorbido|
|edén tropical pulverizado|
el desierto remonta su
estación permanente.
El desierto es paciente.
Tradução de WALTER LOUZÁN
Datos: Luiz Roberto Guedes é poeta, escritor, tradutor e letrista, sob o nome de Paulo Flexa. Nasceu em São Paulo, em 1955. Publicou, entre outros, Calendário Lunático (2000), a novela histórica O mamaluco voador (2006), Mínima Immoralia/Dirty LImerix (2007), e diversos livros para o público juvenil como Treze Noites de Terror (2002), Armadilha para lobisomem (2005), e Meu Mestre de História Sobrenatural (2008).
...ai de quem abriga desertos!
Nietzsche
O deserto é um esqueleto.
Luminudez. Nenhum olhar povoa.
O vento recria a paisagem lunar.
Usina de tempo, o deserto rói ossos
|baleias celacantos megatérios mamutes
tigres dentes-de-sabre| rói rochas e
deuses de pedra com dentes de
areia por cem milhões de anos.
Obra em progresso
|oceano sorvido|
|éden tropical pulverizado|
o deserto remonta sua
estação permanente.
O deserto é paciente.
el desierto crece
… ¡ay de quien abriga desiertos!
Nietzche
El desierto es un esqueleto
Luminudez. Ninguna mirada puebla.
El viento recrea el paisaje lunar.
Usina de tiempo, el desierto roe
huesos|ballenas celacantos megaterios
mamuts tigres dientes de sable| roe
rocas y dioses de piedra con dientes
de arena por cien millones de años.
Obra en andamiento
|océano sorbido|
|edén tropical pulverizado|
el desierto remonta su
estación permanente.
El desierto es paciente.
Tradução de WALTER LOUZÁN
Datos: Luiz Roberto Guedes é poeta, escritor, tradutor e letrista, sob o nome de Paulo Flexa. Nasceu em São Paulo, em 1955. Publicou, entre outros, Calendário Lunático (2000), a novela histórica O mamaluco voador (2006), Mínima Immoralia/Dirty LImerix (2007), e diversos livros para o público juvenil como Treze Noites de Terror (2002), Armadilha para lobisomem (2005), e Meu Mestre de História Sobrenatural (2008).
Edson Cruz
Gonfotérios na Paulista
quando os helicópteros tomarem os céus
de assalto e não houver espaço para mais arranha-céus
arranharem a nervura dos pés de Júpiter
sairei pela Paulista nu e mijarei na vitrine de todas
as lojas de roupas masculinas
quando Hollywood invadir a tela
de meu micro e não houver mais tempo para que o ouvido
escute o soar das libélulas em cópula
me tornarei um vírus paraguaio e sedento a infectar
jovens virgens e sardentas
quando tudo que criamos der em nada
e meus sonhos mais malucos couberem num grão
de chip Made in India
vestirei minha máscara de gonfotério e sairei
por aí a procurar alfaces cultivados em bacias d’água
tudo isso farei ao som de um mantra tão exótico
que a solidão dos seres vibrará em uníssono supersônico
e arrasará o que ainda restar de escombros e sonidos
Megaterios en la Paulista
Cuando los helicópteros tomen los cielos
por asalto y no haya más espacio para los rascacielos
y arañen las venas de los pies de Júpiter
andaré desnudo por la Paulista y miraré los escaparates de todos
los negocios de ropas masculinas
Cuando Hollywood invada la pantalla
de mi computadora y no haya más tiempo para que el olvido
escuche el sonar de las libélulas copulando
me tornaré un virus paraguayo sediento de infectar
a jóvenes vírgenes y pecosas
Cuando todo aquello en que creíamos se vuelva nada
y mis sueños más locos quepan en un grano
de chip Made in India
vestiré mi máscara de megaterio y saldré
por allí a conseguir lechugas cultivadas en tazones de agua
Todo eso haré al son de un mantra tan exótico
que la solidez de los seres vibrará a un supersónico unísono
y arrasará con lo que todavía quede de escombros y sonidos
quando os helicópteros tomarem os céus
de assalto e não houver espaço para mais arranha-céus
arranharem a nervura dos pés de Júpiter
sairei pela Paulista nu e mijarei na vitrine de todas
as lojas de roupas masculinas
quando Hollywood invadir a tela
de meu micro e não houver mais tempo para que o ouvido
escute o soar das libélulas em cópula
me tornarei um vírus paraguaio e sedento a infectar
jovens virgens e sardentas
quando tudo que criamos der em nada
e meus sonhos mais malucos couberem num grão
de chip Made in India
vestirei minha máscara de gonfotério e sairei
por aí a procurar alfaces cultivados em bacias d’água
tudo isso farei ao som de um mantra tão exótico
que a solidão dos seres vibrará em uníssono supersônico
e arrasará o que ainda restar de escombros e sonidos
Megaterios en la Paulista
Cuando los helicópteros tomen los cielos
por asalto y no haya más espacio para los rascacielos
y arañen las venas de los pies de Júpiter
andaré desnudo por la Paulista y miraré los escaparates de todos
los negocios de ropas masculinas
Cuando Hollywood invada la pantalla
de mi computadora y no haya más tiempo para que el olvido
escuche el sonar de las libélulas copulando
me tornaré un virus paraguayo sediento de infectar
a jóvenes vírgenes y pecosas
Cuando todo aquello en que creíamos se vuelva nada
y mis sueños más locos quepan en un grano
de chip Made in India
vestiré mi máscara de megaterio y saldré
por allí a conseguir lechugas cultivadas en tazones de agua
Todo eso haré al son de un mantra tan exótico
que la solidez de los seres vibrará a un supersónico unísono
y arrasará con lo que todavía quede de escombros y sonidos
Edson Cruz
Sinal verde
tantos anos se arrastaram
já não me lembro de minha infância
será que a tive, ou foi um sonho?
tudo se resume a uma noite
noite de escolha e enfrentamento
ali, me fiz na solidão azul
do nascimento
“se não quer ir ao culto
que fique aí, sozinho!”
fiquei ali, e ainda estou...
em casa escura e sobressaltada
por sombras e faróis relampejando
abandonado de deuses e de afetos
não dormi, como não durmo agora
não fugi, como nem posso embora
ali, a vontade de meu eu se impôs
minha porção de dor se amarelou
permaneci na infinitude do possível
e assim abraço o totem
de vida que sutil me resta
na contingente luz verde que se revela
aceito humilde e resignado
o gentil açoite da morte que me espera.
Señal verde
tantos años se arrastran
ya no me acuerdo de mi infancia
¿la tuve o fue un sueño?
todo se resume en una noche
noche de elección y enfrentamiento
allí, me hice en la soledad azul
del nacimiento
“¡si no quiere ir al culto
que siga allí, solo!”
seguí allí, y todavía estoy…
en casa oscura y sobresaltada
por sombras y faroles relampagueando
abandonado por dioses y afectos
no dormí, como no duermo ahora
no escapé, como no puedo aunque
allí, la voluntad de mi yo se impuso
mi porción de dolor amarilleó
permanecí en la infinitud de lo posible
y así abrazo el tótem
de vida que sutil me resta
en la contingente luz que se revela
acepto humilde y resignado
el gentil azote de la muerte que me espera.
Datos: Edson Cruz é baiano de Ilhéus e paulistano de formação. Estudou psicologia, música, violão, e estética. É graduando em Letras pela USP.
Co-edita o site de Literatura e Arte, Cronópios (www.cronopios.com.br) e a Revista eletrônica de Literatura Mnemozine (www.cronopios.com.br/mnemozine). E-mail: sonartes@gmail.com.br
tantos anos se arrastaram
já não me lembro de minha infância
será que a tive, ou foi um sonho?
tudo se resume a uma noite
noite de escolha e enfrentamento
ali, me fiz na solidão azul
do nascimento
“se não quer ir ao culto
que fique aí, sozinho!”
fiquei ali, e ainda estou...
em casa escura e sobressaltada
por sombras e faróis relampejando
abandonado de deuses e de afetos
não dormi, como não durmo agora
não fugi, como nem posso embora
ali, a vontade de meu eu se impôs
minha porção de dor se amarelou
permaneci na infinitude do possível
e assim abraço o totem
de vida que sutil me resta
na contingente luz verde que se revela
aceito humilde e resignado
o gentil açoite da morte que me espera.
Señal verde
tantos años se arrastran
ya no me acuerdo de mi infancia
¿la tuve o fue un sueño?
todo se resume en una noche
noche de elección y enfrentamiento
allí, me hice en la soledad azul
del nacimiento
“¡si no quiere ir al culto
que siga allí, solo!”
seguí allí, y todavía estoy…
en casa oscura y sobresaltada
por sombras y faroles relampagueando
abandonado por dioses y afectos
no dormí, como no duermo ahora
no escapé, como no puedo aunque
allí, la voluntad de mi yo se impuso
mi porción de dolor amarilleó
permanecí en la infinitud de lo posible
y así abrazo el tótem
de vida que sutil me resta
en la contingente luz que se revela
acepto humilde y resignado
el gentil azote de la muerte que me espera.
Datos: Edson Cruz é baiano de Ilhéus e paulistano de formação. Estudou psicologia, música, violão, e estética. É graduando em Letras pela USP.
Co-edita o site de Literatura e Arte, Cronópios (www.cronopios.com.br) e a Revista eletrônica de Literatura Mnemozine (www.cronopios.com.br/mnemozine). E-mail: sonartes@gmail.com.br
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