3 dic 2011
RONALDO CAGIANO de "O SOL NAS FERIDAS"
ESCAMAS
Havia um amanhecer depois daquele outono.
A vida, em suas estranhas latitudes,
território lisérgico onde dormiam meus fantasmas,
já não é mais o canteiro onde cultivei desilusões
hoje, planeta onde não me escondo,
catapulta-me sobre os abismos.
Quebrei o silêncio dos invernos
com o veto ao deserto absoluto
em que a existência havia se corrompido.
Onde tudo parecia inóspito, inferno,
como um atol de sarças venenosas
agora é sonho que se cristaliza,
habitante provisório
de um mundo sem escamas.
De: “O SOL NAS FERIDAS”, Dobra Literatura, São Paulo, 2011.
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