O RITMO DAS COISAS
A poesia traz as coisas para si
e de si as reinventa para a vida.
Joaquim Branco
O tempo
com sua máquina de esquadrinhar
esfarela o museu de ossos
escondido sob a pele fatigada.
O tempo
e seu evangelho de dissoluções
escultor insone
burilando o caminho rumo às Parcas.
O tempo
com sua vigília
sobre os escombros
em que nos transformamos a cada dia.
O tempo
arsenal de punhais
com a lógica taliônica
de uma rude cronologia.
O tempo
(belvedere ou abismo?)
no qual me lanço
para ser absorvido pelo insondável
na peregrinação movediça no vazio.
O tempo
animal invisível
que nos rouba todas as idades
e nos devora
com seu ritual insensato
dentes afiados
como uma nuvem de gafanhotos
devorando nossas córneas.
O tempo
relógio insaciável
anoitecendo os meus olhos.
O tempo
a moenda das horas
impondo o ritmo das coisas.
De: “O SOL NAS FERIDAS”, Dobra Literatura, São Paulo, 2011.
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