SAAVEDRA, 2111
Na praça invadida pelas brumas de junho
os pássaros buscam na ínfima luz do sol
notícias de um mundo distante.
Enquanto homens solitários
e jovens conduzindo cachorros
emolduram as ruas com um balé de patas
aguardo o poeta
que trará o canto agudo
e na lâmina do verso
explicará a vida.
Em direção a Rafael Calzada
percorri a solidão ferroviária
num trem que penetrava os subúrbios
como um cometa povoado de rostos.
No caminho, meus olhos visitavam
casas geminadas e quintais lindeiros
e nascia uma história fértil
de pomares viçosos
galpões desérticos
e esqueletos de fábricas.
Numa retaguarda de acenos
a estación Constitución
haveria de ensinar outras
lições de partida,
mas quando desci em Adrogué
o amigo me esperava como a uma notícia
e meus braços saudaram a cidade
como a estátua do Redentor à Baía de Guanabara.
No jardim de Nídia Santa Cruz
(ventre semeado de futuros)
a terra anunciava um roseiral
tão belo quanto os girassóis de Van Gogh.
De: “O SOL NAS FERIDAS”, Dobra Literatura, São Paulo, 2011.
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