MARCHA INSONE
... existir é sangrar.
Hildeberto Barbosa Filho
...e havia uma madrugada a vencer
feito Sísifo no aclive interminável:
viver era a pedra renovada
sob os ombros que suportavam
o rigor das punições.
Contra a escuridão
desenhei atalhos de fuga,
quando se insinuava o boicote
ou a avidez da tocaia.
O caminho longo sob os litígios
de um rio imundo
já não é como a pirâmide que desafia
nem a esfinge que devora:
seu coração decifrou para mim
os códigos da batalha
no teatro insone
entre sóis hibernados
e a vida que passava sonâmbula
acordou-me antes da sinfonia dos galos.
Penetrei o vazio,
lago inerte estancando a felicidade,
para reencontrar-me nos mistérios
de um peito
aberto como asas de anjo
ou nas excreções de alguma tristeza
com seus lábios de fogo.
De: “O SOL NAS FERIDAS”, Dobra Literatura, São Paulo, 2011.
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