VII
Súbito vimos ao mundo
e nos chamamos Ernesto
Súbito vimos ao mundo
e estamos
na América Latina
Mas a vida onde está
nos preguntamos
Nas tavernas?
nas eternas
tardes tardas?
nas favélas
onde a história fede a merda?
no cinema?
na fêmea caverna de sonhos
e de urina?
ou na ingrata
faina do poema?
(a vida
que se esvai
no estuário do Prata)
Serei cantor
Serei poeta
Responde o cobre (da Anacoda Copper):
Serás assaltante
e proxeneta
policial jagunço alcagüeta
Serei pederasta e homicida?
serei viciado?
Responde o ferro (da Bethehem Steel):
Serás ministro de Estado
e suicida
Serei dentista?
talvez quem sabe oftalmologista?
otorrinolaringologista?
Responde a bauxita (da Kaiser Aluminium):
serás médico aborteiro
que dá mais dinheiro
Serei um merda
quero ser um merda
Quero de fato viver.
Mas onde está essa imunda
vida – mesmo imunda?
No hospicio?
num santo
oficio?
no orificio
da bunda?
Devo mudar o mundo,
a República? A vida
terei de plantá-la
como um estandarte
em praça pública?
VIII
A vida muda como a cor dos frutos
lentamente
e para sempre
A vida muda como a flor em fruto
velozmente
A vida muda como a água em folhas
o sonho em luz eléctrica
a rosa desembrulha de carbono
o pássaro da boca
mas
quando for tempo
E é tempo todo tempo
mas
não basta um século para fazer a pétala
que um só minuto faz
ou não
mas
a vida muda
a vida muda o morto em multidão
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